“Medicina Geral e Familiar é a base de todo o sistema”

“Medicina Geral e Familiar é a base de todo o sistema”

Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos assinalou, este domingo (19 de maio), o Dia Mundial do Médico de Família, com o lema “Dia Mundial do Médico de Família, nas Bodas de Ouro do 25 de abril“, numa cerimónia plena de significado que decorreu no auditório do Hospital Pediátrico de Coimbra, prestando tributo a estes profissionais que são um dos pilares dos cuidados de saúde.

 “Se tivemos esta enorme evolução na Medicina e na Saúde em Portugal, se conseguimos reduzir a mortalidade infantil, e a ser um dos melhores sistemas de saúde do mundo e a termos uma população com uma das maiores longevidades do mundo, isto deve-se ao Serviço Nacional de Saúde, mas, dentro do SNS, deve-se aos médicos de família. Foram eles que, ainda antes do o início da organização do SNS, levaram – em muitos casos pela primeira vez – a assistência médica às populações. Nessa altura, eram designados de clínicos gerais, mais tarde criou-se a especialidade de Medicina Geral e Familiar.”. Palavras do presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos nesta sessão comemorativa na qual deixou também um alerta sobre o novo modelo do SNS implementado desde janeiro em Portugal. A este propósito, Manuel Teixeira Veríssimo foi contundente: “Teremos de pensar que – a criação de ULS em todo o país – o espírito da sua criação é para se basear nos médicos de família, ao contrário do que a população muitas vezes pensa e direi até alguns médicos e gestores hospitalares. O centro do sistema de Saúde do nosso País não se deve centrar nos hospitais”.

A seu ver, “é na Medicina Geral e Familiar que se tratam doenças mas também se previnem as doenças”. Sem esquecer os problemas que resultam da falta de recursos humanos, o presidente da SRCOM aponta que urge que cada utente tenha médico de família. “Temos de encontrar um tratamento para a situação aguda – mais de um milhão sem médico de família – seja com médicos já reformados seja criando maior atratividade para os mais jovens”, acentuou. “Continuo a pensar que nenhum sistema de saúde terá sucesso sem ter a base bem sedimentada nos médicos de família, complementando com maior literacia em Saúde”. Apesar deste retrato sombrio mercê da atualidade, Manuel Teixeira Veríssimo lembrou que estas comemorações estão associadas às comemorações da revolução que ocorreu 25 de abril de 1974, enaltecendo a evolução da Medicina em Portugal. Desejou, no final da sua intervenção, que “o futuro nos traga médicos de família para toda a população e uma população mais cooperadora com os médicos, para bem de todos”.

Para o presidente da Sub-região da Ordem dos Médicos, Luiz Miguel Santiago, a celebração deste dia “deverá ser sempre comemorado para consagrar o que está já e de positivo foi feito e a importância da Medicina Geral e Familiar e não para chamar a atenção para o facto de que ela, existindo, é regularmente muito mal tratada. Estabelecida em Portugal como disciplina médica e mesmo académica na década de 80 é a mais numerosa em inscritos na Ordem dos Médicos, tem uma atividade fundamental na economia do País e segue a pessoa desde o nascimento até, infelizmente, à morte e não dá altas. E é a única que tem uma definição Europeia.”. Realizado este importante intróito, o também delegado distrital da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar abordou o futuro da especialidade da organização do sistema de Saúde: “o futuro pode ser risonho se quem neste momento tem a possibilidade de ver o horizonte souber e quiser, estrategicamente, que os cuidados médicos sejam pessoais e holísticos para as pessoas que têm doenças, dolência e pretendem ter saúde. Montar Unidades Locais de Saúde de cima para baixo, referindo ser o Hospital o fulcro do sistema, será o constatar, a muito breve prazo da incapacidade de suportar os custos da Saúde. Uma organização que perceba que os Serviços Hospitalares deverão servir para dar respostas às dúvidas e aos casos que no ambiente da Medicina Geral e Familiar se percebe perceberem deles será profícua. Tal implica dar as responsabilidades, as condições físicas e de trabalho, bem como a retribuição corretas a quem está na MGF.”

O presidente da Unidade Local de Saúde de Coimbra, Alexandre Lourenço, destacou a importância crucial dos Médicos de Família na prestação de cuidados de saúde de elevada qualidade, contínuos e de proximidade. Resumindo a sua intervenção nesta cerimónia, escreveu e esquematizou na sua página da rede social Facebook: “Em Coimbra, acreditamos que construção da Unidade Local de Saúde (ULS) depende da valorização e reconhecimento da Medicina Geral e Familiar. Por isso, temos trabalhado nos últimos meses para: Garantir a Abertura do Centro de Saúde da Fernão Magalhães; Constituir seis Comunidades de Saúde: permitindo descentralizar a gestão e permitir um modelo de governação clínica e operacional autónoma com a direção de um médico de família; Constituir fundo de maneio para as USF: previsto legalmente há mais de quinze anos mas nunca implementado; Promover a atração e retenção de recém-especialistas: Aplicação de um modelo coerente de incentivos acordados com os municípios e a anunciar brevemente”. Prometeu, pois, com todos os intervenientes, “construir um sistema integrado, centrado nas pessoas, que promova a saúde e o bem-estar da nossa comunidade.

Numa mensagem vídeo, o Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, deu especial destaque ao trabalho desenvolvido pelos especialistas em Medicina Geral e Familiar, que desempenham “um papel de grande proximidade” e “uma medicina humanizada”. Carlos Cortes não deixou de lembrar também que a MGF, tal como outras especialidades, “atravessa um momento de grande dificuldade, momentos desafiantes e de fragilidade dos próprios cuidados de saúde”. E tal como Manuel Teixeira Veríssimo, também o bastonário da Ordem dos Médicos alertou para a atual organização do SNS. “As ULS podem colocar em perigo as grandes conquistas que têm sido desenvolvidas pela MGF ao longo dos últimos anos”, dificuldades que se relacionam “não só com o subfinanciamento” mas também com “a falta de reconhecimento de desenvolvimento de uma nova carreira médica e a falta de reconhecimento do papel dos médicos e de condições de trabalho”.

Nesta sessão comemorativa que decorreu no Auditório do Hospital Pediátrico de Coimbra e contou com o testemunho de quem foi médico de família antes do período vigente da Democracia, participaram também o grupo de teatro infantil ‘Move junior’, o Coro da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos e o grupo ‘Fado ao Centro’. Um programa comemorativo que contou com a apresentação das médicas de família Liliana Constantino e Teresa Pascoal.

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