“O médico tem de ter uma visão holística, histórica e política”

“O médico tem de ter uma visão holística, histórica e política”

Foi com base no compromisso médico / Juramento de Hipócrates que Fernando Nobre, doutor ‘honoris causa’ pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e presidente da Fundação de Assistência Médica Internacional – AMI, desenvolveu grande parte da sua conferência na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), na tarde do dia 11 de março de 2024. Ao proferir a palestra intitulada “Uma humanidade e um planeta para salvar”, o reputado médico cirurgião destacou a interligação entre as preocupações com a saúde global, a solidariedade internacional e a sustentabilidade ambiental.

Professores, investigadores, estudantes e população em geral escutaram Fernando Nobre assumir que a primeira frase do Juramento de Hipócrates tem norteado a sua intervenção: Citamos: “Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da humanidade”, assim se inicia o texto do Juramento de Hipócrates. Texto fundamental que Fernando Nobre diz ser a matriz da sua vasta intervenção pelo mundo, em países onde diversas catástrofes redundaram em trágicas consequências humanas, e cuja segunda frase é: “A saúde e o bem-estar do meu doente são as minhas primeiras preocupações”. Uma ética social e humana que o levou a várias reflexões sobre questões pertinentes da actualidade e o papel de cada um na construção de um mundo mais justo, solidário e sustentável.

Ao assumir que a sua intervenção cívica e política lhe trouxe engulhos vários, Fernando Nobre, instado por uma pergunta da plateia, assumiu que não está arrependido porque o mais importante é a sua consciência. Escreveu um capítulo no livro editado pela Ordem dos Médicos – “A Relação Médico-Doente” e assumiu-o com orgulho. Abandonada a sua opção de vida de ter um hospital numa zona recôndita em Angola, entendeu que a sua vocação seria participar em missões humanitárias. “Assumo com humilde que já estive em mais de 185 países, 86 dos quais em missões humanitárias concretas”, lembrou. “Nós temos uma humanidade e um planeta em perigo” assumiu, recordando até o relógio do apocalipse que agora nos coloca “a escassos 10 segundos do tempo-limite, devido a um distúrbio tremendo de certos seres, que eu espero que sejam humanos, e que pretendem dominar tudo em nome de uma Nova Ordem Mundial”. Aos 73 anos, assumiu, “já vi muitas guerras e e a minha mulher sabe que o meu sonho, hoje, era estar em Gaza. O que está a acontecer na Palestina deixa-me ferido de morte”.

O médico cirurgião e também urologista, lembrou, porém, que no nosso País também existem franjas da população em grande sofrimento: “A miséria no nosso País está a aumentar, a pobreza está galopante”, citando, a título de exemplo, o recrudescimento das pessoas em situação de sem-abrigo. A seu ver, o médico tem o dever de intervir na sociedade “implique o que implicar”. Defende, aliás, que “o médico tem de ter uma visão holística, histórica e política.”

O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Manuel Teixeira Veríssimo, esteve presente nesta conferência.

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