Os desafios são muitos e surgem a cada vez maior velocidade e acutilância na sociedade em que vivemos: as migrações, a debilidade das economias (nomeadamente a portuguesa) num mundo globalizado, a transformação digital, o ordenamento do território, a Saúde, a habitação, entre muitos outros.
Quatro representantes das respetivas ordens profissionais refletiram sobre o tempo presente e o devir com medidas transformadoras. “A causa das Causas: por que razão não fazemos o que deve ser feito” foi o tema da conferência do antigo ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional Miguel Poiares Maduro nesta VIII Conferência das Ordens, uma iniciativa que decorreu em Viseu, a 13 de outubro, com a participação de quatro ordens profissionais: Médicos, Advogados, Arquitetos e Engenheiros.
Perante uma vasta plateia que acorreu ao Auditório Mirita Casimiro, coube ao professor Miguel Poiares Maduro fazer a primeira intervenção no âmbito da qual fez uma detalhada reflexão sobre a situação económica e social do nosso país. “Se há tópico em que estamos todos de acordo em Portugal é sobre a necessidade de levar a cabo as reformas no nosso País”, disse, mas, ao invés disso, “mesmo existindo consenso sobre a necessidade de fazer reformas profundas, na verdade, fazemos tão poucas”. Estava assim dado o mote para “a causa das Causas”, isto é, “o que está a montante das reformas”.
Depois de fazer um diagnóstico alargado sobre os problemas do país (com gráficos) independentemente dos ciclos políticos, depois de avançar com um conjunto de causas que possam explicar os problemas do País (educação, impostos, justiça e com os problemas económicos), o docente universitário fez a ligação para as condições necessárias para, coletivamente, levar à ação e à eficácia, combatendo a inação e a estagnação do País.
O ex-diretor da Escola de Governação Transnacional do Instituto Universitário Europeu (em Florença, Itália) – onde se doutorou em Direito, e onde trabalhou como investigador do Centro Robert Schuman de Estudos Avançados e docente do Departamento Jurídico – considerou que o baixo nível de instrução e de conhecimento, o elevado esforço fiscal das empresas, o parco investimento público em percentagem Produto Interno Bruto (nos últimos anos, foi inferior àquilo que é necessário para manter os equipamentos públicos), a falta de reconhecimento do mérito por parte das instituições do Estado, a existência de opacidade são outras dificuldades existentes no nosso País.
“Para quem estava à espera de ouvir uma palestra cheia de lugares comuns, frases feitas e ideias já discutidas, ficou muito surpreendido com a frescura no conteúdo e na forma do Professor Miguel Poiares Maduro”, sublinhou a jornalista Dalila Carvalho, que moderou o debate que se seguiu e que contou com Francisco Mendes da Silva (Ordem dos Advogados), Manuel Teixeira Veríssimo (Ordem dos Médicos), Carlos Figueiredo (Ordem dos Arquitetos), Ricardo Campos (Ordem dos Engenheiros).
Questionado pela moderadora sobre os problemas relacionados com a demografia e reportando-se aos problemas no setor da Saúde, Manuel Teixeira Veríssimo, doutorado em Medicina e professor da FMUC, considerou que o SNS não se soube ir adaptando com o tempo, uma vez que os hospitais têm a mesma organização desde a criação do SNS”. O Presidente da SRCOM falou ainda sobre a dupla vertente da evolução demográfica: sucesso, por um lado; e de problemas, por outro. “Nós, em Portugal e no resto da Europa, não podemos continuar a considerar que quem se reforma deixa de ter valor para a sociedade. Grande parte das pessoas mais velhas têm muito para dar à sociedade”, disse. “Teremos de alterar o conceito de velho e de velhice?”, questionou Dalila Carvalho. Manuel Teixeira Veríssimo respondeu afirmativamente e, a este propósito, lembrou que, hoje, a classificação de pessoa idosa chega com os 65 anos, conceito gizado pela OMS há perto de 50 anos quando em Portugal a esperança média de vida teria menos de 30 anos em relação à atualidade. “Provavelmente, esse corte terá de ser revisto, pelo menos para os 75 anos”, defendeu. Francisco Mendes da Silva falou sobre a degradação da cultura política e Ricardo Campos defendeu a criação de uma Ágora que junte conhecimento académico, científico com o mundo empresarial e da administração do Estado. Já o arquiteto Carlos Figueiredo, apresentado pela moderadora como um “ativista do ordenamento do território”, falou sobre a escassa interação dos especialistas com as decisões políticas. “Os arquitetos não são chamados a participar na sociedade”, lamenta.
A Conferência das Ordens é um evento anual coorganizado pelas delegações de Viseu da Ordem dos Engenheiros, dos Arquitetos, dos Advogados e dos Médicos.