Covilhã acolhe Juramento de Hipócrates

Covilhã acolhe Juramento de Hipócrates

Covilhã, 14h30 do dia 3 de dezembro. A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) inscreveu no calendário mais um momento especial: o Juramento de Hipócrates, no Grande Auditório da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (FCS-UBI), cerimónia conduzida por Inês Moreira, médica interna de MGF e representante da SRCOM (integra o Gabinete de Formação Médica/Contínua) e ex-aluna da FCS-UBI, e que contou com momentos artísticos de rara beleza, com alegria e jovialidade dos bailarinos da companhia Kayser Ballet, a primeira Companhia de Bailado Jovem Profissional em Portugal.

A leitura do juramento em uníssono é sempre um momento marcante e, neste dia, o bastonário da Ordem dos Médicos, o presidente do Conselho Regional do Centro da OM, e o presidente do conselho sub-regional de Castelo Branco, e os jurandos prestaram, publicamente, o compromisso hipocrático milenar que rege a profissão médica. Inês Moreira deu nota do “orgulho” de “vestir a bata branca”, não escondendo, porém, de partilhar com os mais novos de que apesar de “não vai ser um caminho fácil”, assevera, “vale a pena, sobretudo, pelos nossos doentes”.

Antes deste compromisso solene, e logo no início da cerimónia, Carlos Cortes, presidente da SRCOM fez um cumprimento especial ao Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, não só pelo contributo ao “liderar a OM nestes anos conturbados” de pandemia COVID-19, mas também destacou que foi no seu mandato em 2018 que se descentralizou o Juramento de Hipócrates na Covilhã, fazendo com que, atualmente, se realize em cinco cidades do País: Braga, Coimbra, Covilhã, Lisboa e Porto. Um cumprimento especial, também, ao presidente da FCS-UBI, Professor Miguel Castelo Branco, que “incentivou esta descentralização do Juramento de Hipócrates”. Na opinião de Carlos Cortes, esta cerimónia simbólica na Beira Baixa tem o significado de que “o interior também é importante e deveria merecer ainda mais a atenção dos nossos governantes”. O presidente da SRCOM assinalou ainda a presença honrosa do presidente da Sub-região da Guarda, o cirurgião José Manuel Rodrigues, o presidente da Sub-região de Castelo Branco, Ernesto Rocha, que iria mais tarde proferir a oração de sapiência. Sara Cruz

Após os agradecimentos a todos os presentes (ilustres representantes da comunidade médica e científica bem como de várias ordens profissionais, do representante do Sindicato Independente dos Médicos, e dos representantes dos estudantes de Medicina) a intervenção do presidente da SRCOM foi dirigida de imediato para os jovens colegas, a quem fez o “elogio e reconhecimento pelo caminho que traçaram nestes últimos anos”, isto é, “um caminho de grande esforço, de enorme dedicação e sacrifícios para ajudar quem necessita”, nos quais Carlos Cortes realçou também que “não estiveram sozinhos” pois estiveram sempre “acompanhados pelos familiares, amigos, mestres” até “este momento solene”. E foi para todos eles que exortou os presentes a dedicar “uma grande salva de palmas”. “O reconhecimento é sempre importante, é importante reconhecermos quem nos ajudou e quem esteve connosco”, acentuou. A seu ver, o Juramento de Hipócrates é um momento único, “o momento mais simbólico e solene” da Ordem dos Médicos, um “momento carregado de emoção e com um imenso significado”, de grande importância para os jurandos, pois, este “ritual permite integrar uma grande comunidade que permite ultrapassar as barreiras do tempo e do espaço para se juntarem a comunidade intemporal”, dos “médicos que dedicam a sua vida, no passado, no presente e no futuro, a salvar a vida dos outros”, desde “o início da Humanidade”.

Recordando William Osler, “pioneiro da Medicina moderna e nos programas de formação”, Carlos Cortes referiu que ele todos os anos oferecia um pequeno livro aos seus alunos com alguns dos seus ensinamentos como “serenidade e tranquilidade perante as dificuldades” e o “foco no que é realmente importante”. Em seguida e nesta linha de pensamento, o anfitrião desta cerimónia lembrou ainda o imperador romano e filósofo Marco Aurélio, no livro que chegou até aos dias de hoje com o título “Meditações“: “Sê como o promontório contra o qual as ondas quebram e voltam a quebrar, que se matém firme e as águas tumultuosas se rendem à sua volta”. Isto é, sublinha agora, “o médico é um referencial de estabilidade, tranquilidade, imperturbabilidade, de confiança e esperança” e “tem de permanecer focado naquilo que tem valor, que é a vida humana”.

Entrados na profissão, após o Juramento, disse ainda Carlos Cortes, “serão protagonistas de muitas vidas, protaginustras de muitos acontecimentos, protagonistas do futuro” e serão, “em primeiro lugar protagonistas da Medicina”, enquanto protagonistas “da medicina baseada na evidência, contra a mentira, contra a desinformação e contra a charlatanice”, instou o presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos. E de que maneira foram os médicos os protagonistas nesta última pandemia! “Quem defendeu a Ciência e a Medicina na primeira linha, como um farol, foi a classe médica, a Ordem dos Médicos e o gabinete de crise da Ordem dos Médicos”. Porém, advertiu, “não se limitem apenas a um papel clínico e técnico”, pois “são protagonistas sociais”.

“Não se esqueçam que têm uma enorme responsabilidade que vai assentar nos vossos ombros, que é uma responsabilidade social”, que vem de outras gerações de médicos, entre eles recordou os que, em plena ditadura, e que ousaram elaborar o Relatório das Carreiras Médicas, com o intuito de levar os cuidados médicos “a todos os portugueses”. Contextos difíceis mas que nem assim demoveram os médicos que, por sua vez, anos depois e em plena crise económica e social, sob intervenção do Fundo Monetário Internacional, se juntaram para criar o Serviço Nacional de Saúde (conhecida Lei António Arnaut, ministro dos Assuntos Sociais). Nesses momentos decisivos, como agora na pandemia, “os portugueses contaram com os médicos”, “protagonistas da solidariedade e do humanismo”, “portadores de esperança”. Lembrou: “Muitos médicos vieram fazer o Serviço Médico à Periferia, para a Guarda, para Castelo Branco, para os Açores, foram os médicos que decidiram levar a saúde a todos os portugueses e fizeram isso em condições muito difíceis. Os portugueses, tal como agora na pandemia, contaram com os médicos. Os médicos são verdadeiramente os protagonistas da solidariedade e portadores de esperança”, sendo ainda protagonistas de uma relação muito especial e “única”: médico-doente/ doente-médico. Prestes a finalizar a sua intervenção, lembrou: “O Juramento é um documento notável e único, está lá tudo”, designadamente “a justiça, a autonomia, o respeito pelos mestres, pelos vossos doentes e pelos vossos pares. É um documento fundador de humanismo médico”. E a terminar, citando o físico Stephen Hawking – (“apesar do seu problema de saúde incapacitante fez muito pela Ciência”) – Carlos Cortes lembrou que o cientista “escreveu algo maravilhoso que se adapta perfeitamente a este momento” no livro “Breves respostas para grandes questões“: “Por isso, lembrem-se de olhar para as estrelas e não para os pés, tentem encontrar um sentido para o que vêem e maravilhem-se com o que dá existência ao Universo. Sejam curiosos e por difícil que a vida possa parecer há sempre algo que podem fazer e em que serão bem sucedidos. É importante que não desistam, soltem a imaginação, deem forma ao futuro” e, juntou as suas palavras em jeito de remate, “sejam felizes!”.

Na cerimónia da Covilhã, coube a Ernesto Rocha, presidente do Conselho sub-regional de Castelo Branco da Ordem dos Médicos e diretor do Serviço de Nefrologia da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco fazer a Oração de Sapiência, classificando este dia especial como, tal como a canção de Sérgio Godinho, “hoje é o primeiro dia do resto da vossa vida”. E começou por ler estrofes de um poema com quase 500 anos, de Luiz Vaz de Camões: “mudam-se os tempos / mudam-se as vontades / muda-se o ser / muda-se a confiança / todo o mundo é composto de mudança “. Tudo isto para, disse, “trazer esperança no futuro e o orgulho de sermos médicos”.

“Apesar dos momentos difíceis que passamos no nosso País, mais especificamente no SNS que espero agora que com um médico como ministro da saúde e um CEO do SNS que é igualmente um colega de profissão com provas dadas que se possa chegar a bom porto”, vaticinou. Porque, “até agora e desde 2009, os ministros da saúde têm sido ministros das finanças”. O professor na FCS da Universidade da Beira Interior, numa espécie de caderno de encargos para o SNS, aponta para a necessidade de organização e da criação de condições para captar o “capital humano fantástico”. “Tem que ser relevante o nosso ato médico, no qual o protagonista é o doente”, sustentou, ao lembrar ainda palavras do Professor Walter Oswald que defende que ‘o doente deve falar, porque em certos casos o doente dá o diagnóstico’. “Escolheram a mais bela profissão do mundo, mas é também a mais difícil”, apontou, acrescentando: “A comunicação com o doente é muito importante. O Homem vale mais por aquilo que comunica do que aquilo que pensa”. Por fim, Ernesto Rocha parabenizou os mais jovens e as respetivas famílias “porque este dia vai ser sempre para melhor”, acabando a sua intervenção com o ‘aforismo” de Esculápio ao filho: “indiferente à fortuna, aos prazeres, à ingratidão (…) se anseias conhecer o Homem (…), então (…): faz-te médico”. “É isso que vos espera”, disse em jeito de remate da Oração de Sapiência.

O bastonário Miguel Guimarães, por seu turno, juntou o presidente da SRCOM no púlpito para, em conjunto, “agradecer o trabalho magnífico dos funcionários da Ordem dos Médicos” do Centro e, já com estes no palco e lembrando também os que estavam em casa, foi-lhes prestado o reconhecimento público. Também Carlos Cortes agradeceu esse “magnífico trabalho” dos funcionários da SRCOM.

Em seguida, já protagonista no púlpito no Grande Auditório da Faculdade de Ciências da Saúde da UBI, Miguel Guimarães agradeceu o notável trabalho de Carlos Cortes à frente do Conselho Regional do Centro, e deixou também um cumprimento especial a todos os dirigentes da Ordem dos Médicos ali presentes. E ao citar o nome do Professor Miguel Castelo Branco, a sala irrompeu em aplausos. “Não me recordo em seis anos de bastonário de ver um diretor de uma escola médica ser tão elogiado pelos seus estudantes”, frisou. Na senda dos elogios, Miguel Guimarães quis também destacar o trabalho de Francisco Pêgo à frente dos destinos da Associação Nacional de Estudantes de Medicina e à Sara Cruz, presidente da Direção da MedUBI, lembrando que “são as associações de estudantes a alma dos dirigentes associativos”.

E prosseguiu na sua intervenção, assumindo que “hoje é o dia dos jovens médicos, das famílias e dos seus amigos”, jovens que, na sua opinião, se devem recordar a todo o tempo de que, além do foco na Medicina e de “tratar da melhor forma os vossos doentes” devem, porém, reservar tempo “para estar com a família, para acompanhar os avós ou ver os filhos crescer, ler um livro, pintar, desenhar, escrever…”, e também “querem esse tempo e respeito e ver o seu trabalho reconhecido e respeitado, querem estar ao lado dos nossos doentes e ter um projeto de trabalho e que este seja devidamente valorizado”. “Um médico que é mais do que médico é seguramente melhor médico”, realçou o bastonário.

Recordando os 84 anos da Ordem dos Médicos, o bastonário destacou a história bonita da instituição e lembrou as palavras de Carlos Cortes que aludira ao Relatório das Carreiras Médicas, liderado pelo bastonário Miller Guerra, e o Serviço Médico à Periferia. Por isso, recordou aos recém-licenciados o legado que têm de honrar, de gerações e gerações de médicos que ajudaram a construir o nosso País “com mais e melhor formação médica”, ajudando a debelar as desigualdades sociais. E falando no desenvolvimento da formação médica especializada “com os melhores indicadores internacionais”, fez ainda questão de transmitir uma mensagem de gratidão a anteriores bastonários pela defesa da qualidade da formação médica, bem como, mais recentemente aos colegas Carlos Cortes (Ex-Presidente do Conselho Nacional da Pós-Graduação), Dalila Veiga (atual Presidente do Conselho Nacional da Pós-Graduação), e a Carlos Mendonça (Presidente Conselho Nacional do Médico Interno) e a todos os elementos das direções dos Colégios da Especialidade da Ordem dos Médicos pelo trabalho realizado na área da formação “mantendo a qualidade”. Recordou ainda que durante seis anos, a OM fez um livro sobre a relação médico-doente como “primeiro passo” para a assunção desta relação a Património Imaterial da Humanidade. Miguel Guimarães convidou todos os colegas a revisitarem o Juramento de Hipócrates, nos bons e nos maus momentos. Apelou, por fim, à guisa de conclusão: “façam da Ordem a casa de todos os médicos”.

Toda esta sessão foi conduzida pela médica Inês Moreira que ali estudara, agora médica interna de Medicina Geral e Familiar, membro do Conselho Nacional do Médico Interno e membro do Gabinete de Formação Médica Contínua da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos. Por fim, as fotografias de grupo e com as famílias, colegas e amigos eternizaram este dia de compromisso Hipocrático.

No dia 10 de dezembro, no Grande Auditório do Convento São Francisco, Coimbra acolheu a última cerimónia de 2022.

Poderá aceder às fotografias desta cerimónia, aqui

Poderá (re)ver a cerimónia, aqui

Partilhe nas redes:

Ordem dos Médicos