SNS, o pioneirismo do Professor Mário Mendes

SNS, o pioneirismo do Professor Mário Mendes

Vulto da Medicina, da Academia e da cidade de Coimbra: Mário Luiz Mendes, será homenageado em Coimbra, no dia 15 de setembro, dia do Serviço Nacional de Saúde (SNS), ele que foi o obreiro do articulado do SNS, tal como António Arnaut reconheceu.

A homenagem faz parte do programa oficial das comemorações 43 anos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que este ano decorrem de 15 a 17 deste mês, em formato híbrido, no Pavilhão Centro de Portugal. Para Carlos Cortes, presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), o médico da área da ginecologia e obstetrícia, é “personalidade ímpar de Coimbra” e merece há muito o reconhecimento neste dia. A sessão de  homenagem no primeiro dia do simpósio “As crises sociais e o impacto do SNS”, que a SRCOM organiza.  Este dia 15, Dia comemorativo do SNS, recordou Carlos Cortes, resulta “de um despacho da ministra Ana Jorge” e, desde então, há um ato simbólico protagonizado pela Liga dos Amigos dos Hospitais da Universidade de Coimbra, que é a rega da ‘Oliveira SNS’, plantada mesmo ao lado daquele pavilhão.

A sessão de homenagem, marcada para as 19h00 do dia 15 de setembro, conta com a presença do ministro da Saúde, Manuel Pizarro.

Mário Mendes, cédula nº 6 848 da Ordem dos Médicos, nasceu em Coimbra em 1926, freguesia de S. Bartolomeu, cidade onde faleceu a 1 de junho de 1997. Frequentou o Liceu de José Falcão e o Liceu D. João III. Cursou Medicina na Universidade de Coimbra, curso concluído a 28 de julho de 1950, com 24 anos. Foi presidente da AAC em 1948. Do seu curriculum, destacamos o ingresso nos Hospitais da Universidade de Coimbra, após concurso de médico interno do Internato Geral em 1952. Aí conclui também o Internato  complementar obstetrícia nos HUC, já em finais de 1955. Integrou o Movimento das Carreiras Médicas, 1961.

É intensa a sua entrega na Ordem dos Médicos, na vida académica e científica. Citamos mais algumas etapas do seu notável percurso:  Em 1965, desenvolve grande atividade na OM, quer no Conselho Geral quer na Secção Regional (de acordo com o livro citado mas abaixo) – foi Júri de inúmeros exames à Ordem dos Médicos. Prestou provas de Doutoramento Académico em janeiro de 1964, com 18 valores, e em abril já era assistente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC). Recebeu as Insígnias Doutorais na FMUC, 19 junho 1966. Um ano depois, a 22 de junho, foi admitido no Rotary Club de Coimbra, onde desempenhou um papel de relevo. Mário Mendes foi Professor Auxiliar da FMUC, desde 1970. O seu percurso ficou indelevelmente marcado pela génese do Serviço Nacional de Saúde, quando foi Secretário de Estado da Saúde, do governo do Dr. Mário Soares, 1978 (que coadjuvou o ministro dos Assuntos Sociais, António Arnaut). É a ele que se deve todo articulado de criação do SNS, tal como escreveu o Dr. António Arnaut. Lucidez, visão e pioneirismo ao traçar os contornos do SNS, na senda do direito à Saúde. Liderou o grupo de trabalho que elaborou o anteprojeto do SNS. O Professor Catedrático de Medicina (desde 1979), assume, um ano depois, a direção da Maternidade Dr. Daniel de Matos, desde 1980. A sua atividade entrelaça-se em vários domínios, como já referimos. Foi Presidente do Conselho Diretivo da FMUC, entre 1976 e 1984.

É na sua cidade que recebe a Medalha de Ouro de Serviços Distintos pelo Ministério da Saúde, 1993, pelo Presidente da República, Dr. Mário Soares, presidente da Assembleia da República, Dr. Barbosa de Melo. É na sua cidade que, a título póstumo, em 2017, lhe foi atribuída a medalha de Mérito da Ordem dos Médicos, no Congresso Nacional da Ordem dos Médicos.

Do seu vasto curriculum, pertenceu a várias sociedades científicas, académicas e profissionais: 1º Presidente da Mesa da Direção Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Ginecologia; Sociedade Portuguesa de Endocrinologia; Sociedade Espanhola de Ecografia; Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica. Foi o primeiro médico a fazer uma transfusão de sangue intra-uterina em Portugal. Deste perfil realizado com referências retiradas do livro ‘Mário Mendes – O médico que foi mestre e cidadão’, deixamos duas citações dessa obra:

  • “Mário Mendes não parava e, como corolário lógico da sua fervilhante preocupação, participou ativamente no Programa Nacional de Saúde Materno-Infantil, um orgulho da Medicina Portuguesa, (…)”, Meliço-Silvestre, ‘Mário Mendes – O médico que foi mestre e cidadão’.
  • “(…) Foi graças a ele e aos demais membros do Grupo de Trabalho, que superiormente orientou, que foi possível elaborar, em pouco mais de um mês, o respetivo articulado [SNS]. Após a queda do Governo, Mário Mendes regressou à sua cátedra e ao seu consultório. Eu retomei o lugar de deputado e foi nessa qualidade que apresentei na AR o mesmo projeto que haveria de culminar na aprovação da referida lei, que honra o espírito de abril e que, apesar de algumas insuficiências, tanto tem contribuído para a qualidade de vida do nosso povo, para a coesão e justiça social. Mário Mendes continuou a meu lado, com o seu apoio e o seu conselho. Foi um grande defensor do SNS. Aliás, o seu empenhamento pela reforma da Saúde vem muito detrás, pois em 1961 integrou o ‘Movimento das Carreiras Médicas’, que havia de colher os primeiros frutos dez anos depois, com a Reforma de Gonçalves Ferreira, também membro do ‘Grupo de Trabalho’ e inspirador de muitas normas ainda em vigor. Resta-me lembrar que se deve a Mário Mendes o despacho que, com o meu acordo, desencadeou a construção dos atuais Hospitais da Universidade, cujo processo estava encalhado nas habituais teias burocráticas do Ministério. Amigo, companheiro e camarada, profissional distinto, cidadão exemplar, militante do SNS, aqui fica, em palavras simples, a minha homenagem e Gratidão.”, António Arnaut, ‘Mário Mendes – O médico que foi mestre e cidadão’.

Foto é a imagem da capa do livro ‘Mário Mendes – O médico que foi mestre e cidadão’

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