São já 482 assinaturas de médicos (de um total de 1061) num documento que descreve as condições da prestação de cuidados de saúde enquanto cumprem o seu internato de formação especializada de Medicina Interna no nosso País. À denúncia das condições de trabalho junta-se a decisão de não fazer mais horas extraordinárias no serviço de urgência, para além das 150 horas, seguindo as normas do Internato Médico. E, tal como se verificou na semana passada, mais uma vez a reunião com a Ordem dos Médicos trouxe ‘à luz do dia’ alguns graves problemas do Serviço Nacional de Saúde.
É que a Ordem dos Médicos decidiu ouvir de viva voz um grupo de representes dos médicos internos de Medicina Interna numa reunião que juntou o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, o presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, o representante do Conselho Nacional do Médico Interno, André Fernandes, representante do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, Lurdes Gandra, e o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, com um grupo de representantes destes médicos internos.
No final deste encontro, em declarações aos jornalistas, Sara Pereira, médica interna do 5º ano da especialidade de Medicina Interna (Hospital Pedro-Hispano, Matosinhos), assumiu que estão todos assoberbados com turnos no serviço de urgência, muitos já exaustos. E, falando em nome de todos, admite graves constrangimentos nos serviços de urgência porque muitos já atingiram o limite de horas extraordinárias. “Temos a certeza que este inverno haverá lacunas nas urgências”, assegurou, alertando para o facto de “nada estar a ser feito” para resolver o problema. “Não há falta de médicos”, sublinhou ainda, mas quem se recuse a trabalhar em condições extremas. Também Catarina Camarneiro, interna do 2º ano de Medicina Interna do Hospital Distrital da Figueira da Foz, e Pedro Maia Neves, médico interno do 3º anos, do Centro Hospitalar do Porto (Hospital de Santo António) descreveram as difíceis condições dos respetivas unidades hospitalares.
O bastonário da Ordem dos Médicos foi taxativo: “os internos não são escravos do sistema”. Instado pelos jornalistas no final da reunião que decorreu na medicoteca da Ordem dos Médicos do Porto, Miguel Guimarães reforçou a necessidade da tutela criar medidas concretas para possibilitar a fixação de médicos no Serviço Nacional de Saúde.