Coletânea com chancela da Chiado Editora foi apresentada na Sala Miguel Torga, em Coimbra, no dia 11 de dezembro.
Quinze autores médicos na escrita (11 portugueses, um equatoriano, um alemão, um brasileiro, e uma luso-brasileira residente em Macau) e o autor da capa, Pedro Miguéis, cirurgião e artista plástico, deram corpo a “Ficção à Realidade… em ano de COVIDamento”, obra que foi apresentada numa sessão difundida em direto nas plataformas digitais da SRCOM. Todos os autores têm obra publicada e participam regularmente em reuniões e congressos organizados pelas respetivas organizações de escritores e artistas médicos.
Neste livro, os autores assumem e encaram o vírus SARS-CoV-2 como um rei tirano que invadiu um grande número de países. No início da sessão, Maria José Leal, chefe de Serviço aposentada de Cirurgia Pediátrica do Hospital D. Estefânia, começou por explicar que foi graças a um texto de Luís Lourenço que esta obra nasceu: “Lancei o mote e foi totalmente espontâneo, não houve elaboração de programa para os restantes textos”. A atual secretária Geral da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos (SOPEAM) agradeceu ainda a Carlos Vieira Reis (cirurgião e ex-Subdiretor do Hospital Militar Principal) que foi “a espalda” que teve “para a organização deste livro”. Assumiu ainda a organizadora desta coletânea que “há um tema que tem sido arredado da sociedade, a morte” e, a esse propósito, leu um poema ‘Morte em Viagem’ de Baltazar Caeiro, que também já foi presidente SOPEAM.
Seguiu-se a intervenção de Carlos Vieira Reis (coautor da obra), emocionado por estar em Coimbra “terra fundadora” da sua vida de médico. Reportando-se à sua participação no livro, revelou que escrever e participar nesta coletânea, foram formas de combater a COVID-19 e ultrapassar a pior fase, a do confinamento. “Fiz um texto a dizer que COVID, para mim, foi ótimo porque me permitiu produzir obra e isso foi a minha salvação. Consegui acabar de escrever três livros e já estou no quarto livro já em fase de revisão. Este último, ‘A Tertúlia dos Prazeres’, anunciou, “é uma conversa entre todos os entes sepultados no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. No fundo, a morte deles ajuda-nos a perceber a vida”.
Para Luís Lourenço (ex-presidente da SOPEAM), o grande impulsionador desta obra, também foi com emoção que recordou que se formou em Coimbra. Recordou: “Coimbra transporta-me, com saudade, para um tempo de estudo e de boémia”, regozijando-se que seja também em Coimbra que este livro se apresenta ao público. “Será, por muitas décadas, uma referência e um testemunho do que foi este tempo”, considerou o contista e poeta.
“Os médicos não podiam ficar calados perante este tema”, disse ainda Maria do Sameiro Barroso, médica, tradutora e ensaísta. Para a atual Presidente da Direção do Núcleo de História da Medicina da Ordem dos Médicos e coautora desta obra, é um orgulho o trabalho cultural e artístico da parte dos médicos portugueses. “Os médicos escrevem com consistência científica”, sublinhou. Secundando Maria José Leal também notou que os médicos raramente falam da morte.
Outro autor, António Rodrigues, assumiu que escreveu as ‘crónicas do reinado’, de cujo teor transcrevemos uma brevíssima parte: “(…)Esqueçam teorias/e vejam vossas senhorias/que a atitude lunática/acabou por dar na prática/ um grito de dor/gritou com rancor/que á sua maneira/disse tanta asneira/que dava um tratado/se fora registado”. E assim foi falando do ‘bicho’, desfiando rimas emparelhadas e interpoladas.
Por seu turno, o presidente da SOPEAM, António Trabulo, contribuiu para este livro com um texto de outro livro seu que escreveu ao mesmo tempo deste “Crónicas da Peste” e aproveitou anunciar a parceria com o Núcleo de História da Medicina da Ordem dos Médicos, com o apoio da Associação Portuguesa de Escritores para editar o terceiro volume “Deuses e Demónios da Medicina” de Fernando Namora, escritor natural de Condeixa e que cursou Medicina em Coimbra.
Pedro Miguéis, autor da capa desta coletânea, agradeceu ao dirigente da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, “por entender o extraordinário papel que as artes têm na vida dos médicos”. O cirurgião e artista plástico disse que este encontro de autores “é um resultado” que o “deixou feliz por ter dado a face a esta obra”.
Por fim, Carlos Cortes, presidente da SRCOM e anfitrião desta sessão, mostrou-se “feliz, satisfeito e honrado” por acolher a Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos. “Sobre os vossos ombros, consigo ver muito mais longe”, assumiu, “como médicos, crescemos com os nossos mestres que nos mostram qual o nosso caminho”. E, entre outros destaques, lembrou quem ali estava ao seu lado “que escrevendo vários livros, “acabou por se desconfinar com a literatura”. Concluiu: “As artes, as artes médicas, também nos dão liberdade. Ser médico é a conjugação de muitas coisas e uma delas é a arte que nos completa como médicos”.
A gravação desta sessão está disponível na página oficial de Facebook da SRCOM, no site da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos ou no canal de youtube da SRCOM.