No dia 20 de novembro, em formato digital, decorreu o primeira cerimónia solene do País
A primeira cerimónia do Juramento de Hipócrates de 2021 espelha bem as circunstâncias complexas vividas na região Centro, face à pandemia COVID- 19, nesta altura do ano. Devido aos riscos de contágio, a SRCOM tomou a decisão de transformar a sessão cerimónia presencial de modo a evitar a concentração de centenas de pessoas, opção que visa defender a saúde pública, tendo em conta o que significam os riscos que se enfrentam em novembro de 2021, isto é, com o país a enfrentar uma quinta vaga da pandemia.
Coube à Vereadora da Câmara Municipal da Covilhã, Regina Gouveia, em representação do Presidente da Câmara, Dr. Vítor Pereira, dar as simbólicas boas-vindas à cidade da Covilhã, assumindo “o quanto é importante para nós que exista esta área de formação na nossa Universidade da Beira Interior, é para nós fundamental ter uma faculdade de Ciências da Saúde”. Por seu turno, a vereadora com os pelouros da Saúde, Cultura, Comunicação e Relações Públicas da autarquia da Covilhã enalteceu a presença do orador convidado a proferir a Oração de Sapiência, Vice-Almirante Henrique Gouveia e Melo que considerou “um homem grande num leme de uma embarcação que não era nada pequena nem fácil de conduzir”. E agradeceu o facto da SRCOM ter colocado o município no papel de anfitrião. “A proximidade, o calor das palavras e os afetos que nos caracterizam, estou certa que também terão marcado os alunos que hoje vão fazer os seu juramento. Espero que este calor, que tem a ver com a lã mas, sobretudo, tem a ver como nós nos relacionamos com os outros, estou certa que os levarão a Covilhã no coração e priorizarem a dimensão humanista e uma ética humana”. A autarca considerou muito simbólico a OM ” ter conferido ao Vice-almirante um lugar nesta tão simbólica sessão”.
Também simbólica, assume o Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, é a escolha da Covilhã para iniciar o primeiro Juramento de Hipócrates. “Estamos a dar um sinal de coesão territorial”, sublinhou. Por seu turno, Carlos Cortes lembrou parte do seu percurso de vida, quando prestou serviço miliar no Regimento de Guarnição nº 1, na ilha Terceira (Açores), onde – confessa – aprendeu a superar-se, a valorizar as missões e a proximidade entre os militares e os médicos. Palavras que serviram de enquadramento para agradecer “a lealdade e a postura exemplar” do Vice-Almirante Gouveia e Melo no processo da vacinação contra a COVID-19 e a forma como lidou com a Ordem dos Médicos. Carlos Cortes, na sua intervenção, solicitou aos mais jovens que “não desvalorizem este momento único e especial”, uma vez que é precisamente neste texto do juramento que poderão encontrar as forças motrizes face a uma realidade difícil. “Não desvalorizem este momento, ouçam e sintam o que vos será dito, entendam o seu significado mais profundo”. “A Medicina, como a conhecemos hoje, brotou num ambiente científico, filosófico, humanista e político ímpar na História da Humanidade”, recordando ainda que o atual juramento “reflete todos os pricípios da bioética moderna (beneficiência, não maleficiência, autonomia e justiça).
Carlos Cortes não deixou, no entanto, de chamar a atenção para a “mediocridade insuportável que prejudica as unidades de saúde”, seja pela falta de recursos humanos ou pelo desrespeito pela formação médica, esta última que sem as condições adequadas nos serviços impossibilitam a formação de mais médicos. E sem esquecer o atual contexto pandémico, Carlos Cortes assinalou que perante as hesitações e desorientação das entidades da tutela, “foram os médicos, por sua iniciativa, que organizaram os seus serviços, os seus centros de saúde, os seus hospitais para darem a melhor resposta possível à maior crise sanitária dos últimos 100 anos”. Frisou: “E foram novamente os médicos que se insurgiram contra a falta de apoio a todos os doentes não-COVID-19 que deixaram de encontrar os cuidados de que necessitavam”. E exortou os mais jovens para que nunca se esqueçam “mais importante em Medicina: a relação com o vosso doente”. “Nunca deixem nada, nem ninguém (ainda menos um burocrata ou um gestor sensível) – se interpor entre vós e os vossos doentes”.
Em seguida, Gouveia e Melo, falando a partir de casa (sendo possível observar a réplica de submarino que lhe foi oferecida em Coimbra, por ocasião do 23º Congresso Nacional da Ordem dos Médicos) fez questão de contar a sua relação pessoal com a Medicina e com os médicos: “o meu bisavô ficou conhecido por ser um médico com uma atitude muito aberta e dedicada às pessoas mais simples; tenho também um primo direito e o meu filho, que são médicos”. Confessando que iria fazer valer a sua capacidade de síntese para esta oração de sapiência, o Vice-Almirante Gouveia e Melo destacou o papel extraordinário dos médicos “que ajudaram a ver para além da bruma” e a forma como os responsáveis da OM “Admiro o vosso sentido de entrega”.
Na sua intervenção e reportando em concreto a estes momentos pandémicos, o militar sublinhou: “Muitos de vós não confinou, numa fase em que as proteções não eram suficientes, não havia vacinas e muitos profissionais ficaram doentes. O meu filho, tal como vós, são exemplos para mim (…) Sem médicos, a sociedade fica doente e desamparada, sem a sensação de segurança. O senhores são do mais valioso que a sociedade tem. Estamos muito agradecidos aos médicos pela forma como suportaram a pandemia”. Gouveia e Melo lembrou aos jovens médicos a importância de Hipócrates que “rejeitou as superstições e práticas mágicas da saúde primitiva, direcionando o conhecimento em Saúde para o caminho científico”.
Antes de leitura coletiva do texto hipocrático, o bastonário da Ordem Médicos, na sua intervenção começou pedir um minuto de silêncio em memória e pelo ex-bastonário da Ordem dos Médicos que falecera precisamente neste dia (20 de novembro 2021).
Miguel Guimarães agradeceu a honra para a Ordem dos Médicos por poder contar com a presença do Vice-Almirante, com a Câmara Municipal da Covilhã, e com a Secção Regional do Centro. A esta opção de cerimónia organizada em formato digital, Miguel Guimarães agradeceu mesmo ao presidente da SRCOM “a prudência e o bom senso nos momentos mais difíceis”. Sublinhou: O Conselho Regional do Centro e o Dr. Carlos Cortes tomaram a decisão mais acertada” (…) Foi uma decisão sensata e corajosa. Uma decisão que defende o País e os portugueses. Mas este continua a ser o vosso momento, um momento especial que valorizamos e honramos”.
Miguel Guimarães considerou que, mesmo estando à distância, está com os mais novos: “Estamos juntos. Juntos, a cumprir as normas da DGS para dar um exemplo à sociedade civil. Juntos, na defesa da saúde pública e das pessoas. Juntos, na defesa dos princípios e dos valores em que acreditamos. Juntos, no apoio aos nossos colegas que têm a missão de cuidar, tratar e proteger os nossos doentes”. O bastonário enfatizou, falando para os jurandos, que este é um dia especial, “um dia em que se renova a inspiração de ser médico”.