Urge testar mais e identificar as variantes do SARS-CoV-2. É o alerta que deixa o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos perante o avançar de novas mutações do vírus que causa a COVID-19 e que podem colocar em causa a eficácia das vacinas e o controlo da pandemia.
Carlos Cortes afirmou, em entrevista ao Notícias de Coimbra, que Portugal e a Região Centro devem realizar mais testes e ao mesmo tempo identificar neles as diferentes variantes do vírus e defende que todos os hospitais da região têm a capacidade técnica para o começar a fazer. “Uma das recomendações internacionais é a testagem ao máximo número de pessoas. Nós, neste momento, estamos num período de confinamento, é mais difícil esta dinâmica de testagem. Infelizmente, apesar daquelas recomendações e das orientações dadas pelo Ministério da Saúde, têm diminuído drasticamente o número de testes. Estamos a testar menos de 10% daquilo que se testou durante a terceira vaga do mês de janeiro. Temos de retomar este processo”. Neste âmbito, Carlos Cortes lembra o desafio lançado à tutela para incorporar a testagem das variantes do SARS-CoV-2, considerando ser fundamental que os casos com as novas variantes sejam isolados e devidamente rastreados para evitar o aumento da transmissão e não repetir o que aconteceu com a variante do Reino Unido no início deste ano. “Ainda ontem, os dados do Instituto Ricardo Jorge referem que 55 por cento da população infetada tinha sido infetada com a variante do Reino Unido”, sublinhou.
À data desta entrevista, o presidente da SRCOM refere quais as variantes que causam maior preocupação: variante do Reino Unido, variante de África do Sul, variante do Brasil (Manaus), variante dos EUA (Los Angeles). Especificidades que podem colocar em causa a eficácia das vacinas e o controlo da pandemia, admite Carlos Cortes (médico especialista em Patologia Clínica). “Com a identificação das variantes, com a identificação das mutações através da sequenciação, podemos mapear o país”, permitindo saber e monitorizar onde está exatamente o doente com a variante mais agressiva.
“O surgimento das variantes de SARS-CoV-2 pode, de alguma forma, apagar tudo aquilo que já sabemos sobre o vírus SARS-CoV-2. Nós sabemos que tem determinadas características em termos de transmissão e nós, tendo em conta essas características, adotámos medidas de prevenção, nomeadamente o uso de máscara, a distância entre pessoas, a higienização das mãos; com estas novas variantes poderemos ter de adaptar as medidas de precaução, teoricamente, o vírus pode ser mais transmissível do que é agora”, explicou. Carlos Cortes voltou a apelar à testagem em termos massivos, à identificação da variantes para que estas não se disseminem na comunidade. Questionado sobre a sua experiência enquanto patologista clínico e enquanto diretor do serviço de patologia clínica do Centro Hospitalar do Médio Tejo (Hospital de Abrantes, Hospital de Torres Novas e Hospital de Tomar), unidade que recebia amostras da comunidade desde Setúbal, Grande Lisboa, todo o Oeste, distrito de Santarém, norte Alentejo, área de influência Médio Tejo. “Adquirimos uma experiência muito importante, temos uma capacidade de resposta, neste momento, que chega entre os 2500 a 3000 testes/dia e adquirimos também a capacidade de identificação das variantes do Reino Unido, África do Sul e Brasil- penso que será dos primeiros serviços [SNS] a ter esta capacidade”.