Centenas de jovens assumem compromisso solene

Centenas de jovens assumem compromisso solene

Centenas de jovens participaram na cerimónia de Juramento de Hipócrates, dia 8 de dezembro, organizada pela Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) que, apesar das contingências da pandemia, não deixou de promover esta cerimónia que assinala a entrada na profissão dos jovens.

Num ano diferente, um julgamento também diferente, para um dia a dia também ele distinto dos anos anteriores: "Nas duas primeiras décadas deste século nunca sentimos o futuro e o andamento da História como neste último ano", assumiu Carlos Cortes.
Na sua intervenção, o presidente da SRCOM destacou três valores basilares – Reconhecimento, Adaptação e Igualdade – tendo por base, precisamente, três compromissos plasmados no Juramento de Hipócrates. Defendeu o justo reconhecimento do desempenho dos médicos, enalteceu a capacidade de adaptação dos médicos perante desafios incomensuráveis e chamou a atenção para as desigualdades gritantes que a sociedade enfrenta.

"Os médicos não precisam apenas de prémios, de bónus, de aumentos salariais ou de mais dias de férias por aquilo que fizeram durante este ano pandémico. Não fizeram mais do que aquela que era a sua missão e o seu dever ético e deontológico. Mas precisam, sim, de condições adequadas para tratar os seus doentes". Abordando a necessária adaptação, disse: "Será necessário retirar todos os ensinamentos que nos trouxe esta crise e prepararmo-nos para novos embates mais do que certos e potencialmente mais perigosos do que aqueles que estamos a viver. Não nos podemos entregar à fatalidade da impreparação que sistematicamente é a imagem dos dirigentes deste País".
Chamou ainda a atenção para gritantes desigualdades, desde logo, com as novas vacinas: "Entristece-me assistir a uma corrida imoral e desenfreada às doses das novas vacinas contra a COVID-19 em que os países mais poderosos e com maior poder económico tentam arrebatar todas as vacinas disponíveis esquecendo as populações mais pobres e mais vulneráveis do nosso planeta". E pediu: "Lanço um apelo aos responsáveis políticos para defenderem no palco internacional uma distribuição equitativa das vacinas considerando-as como um bem comum universal e não como um meio de negócio e enriquecimento. Estes tempos têm de dar espaço à solidariedade das nações, à convivência no respeito e em comunidade, ao reencontro das pessoas".

Perante todo este contexto, Carlos Cortes não deixou, pois, de criticar a tutela, assumindo: "Tudo o que era previsível foi uma surpresa para o Ministério da Saúde e para a Direção-Geral da Saúde. A entrada do vírus em Portugal, o aparecimento da pandemia, a primeira vaga, a falta de equipamento de proteção individual nas instituições de saúde, a rutura dos serviços, a descoordenação entre hospitais e entre centros de saúde (…), a necessidade de um plano de vacinação eficiente para a gripe e para a Covid-19. Tudo foi tratado com uma magistral incompetência". Ao dar conta da importância do Serviço Nacional de Saúde, "cuja ideia só germinou da vontade dos médicos, o qual foi construído pelos médicos e foi mantido até hoje com o enorme contributo dos médicos", Carlos Cortes deixou uma mensagem de esperança, pedindo aos mais novos que interpretem as suas palavras "como um motor de esperança, como um desafio ao status quo.". E, para terminar o seu discurso, citou um parágrafo do último livro de Stephen Hawking, "Breves respostas para grandes questões, publicado 2018, no ano do falecimento do autor: "Por isso lembrem-se de olhar para as estrelas e não para os pés. Tentem encontrar um sentido para o que veem e maravilhem-se com o que dá existência ao universo. Sejam curiosos. E, por mais difícil que a vida possa parecer, há sempre algo que podem fazer e em que serão bem-sucedidos. É importante que não desistam. Soltem a imaginação. Deem forma ao futuro". E acrescentou Carlos Cortes a rematar: "Sejam felizes!".

Honrar a profissão, proteger os doentes

A conduzir esta cerimónia, a médica Catarina Matias, deu em seguida a palavra ao Pro-Reitor da Universidade de Coimbra, José Pedro Figueiredo. Ao invocar a importância deste momento solene, assumiu a honra, a esperança e o entusiasmo que tem perpassado todas as gerações de jovens sempre neste momento de compromisso. "Ligando-nos a Hipócrates, nós ligamo-nos a todos os médicos que, ao longo da História, fizeram da Medicina o que ela é. Passamos, cada um de nós, a ser mais um elo nesta imensa e longa corrente que a Medicina construiu ao longo da História da Humanidade, neste momento em que assumem perante os pares, perante a sociedade, perante os nossos antepassados e perante os que nos sucederão a promessa solene de honrar a profissão e de proteger os doentes e a garantia de nos realizarmos como médicos e como cidadãos". Além disso, falando para os jurandos, destacou a continuidade do legado ancestral: "Vós passareis a ser os continuadores e os portadores do património de saberes e de conhecimento das vossas universidades".

O juramento, um texto para revisitar

O bastonário da Ordem dos Médicos deixou palavras de reconhecimento às famílias e transmitiu a sua gratidão "a todos os jovens médicos pelo exemplo de dedicação, solidariedade, humanismo, inovação, resiliência e coragem. E por acreditarem. Gratidão pela medicina, pelos doentes, pela dimensão ética, pelo ser médico, sem medo". Numa intervenção marcada pelo enaltecimento do que é ser médico, Miguel Guimarães exortou os jurandos para que não esqueçam as palavras do Juramento de Hipócrates: "devem ser o vosso farol". Disse o Bastonário: "não são o fim de uma etapa, mas o início de uma vida dedicada ao outro, ao doente, ao mais frágil, ao que não tem voz. É o texto que devem revisitar orgulhosamente nos dias de sucesso e a que devem ir buscar forças nos momentos mais difíceis", sugeriu, admitindo que haverá muitas dificuldades. Mas, garantiu aos recém-chegados à profissão médica, esse "não é um caminho para percorrermos sozinhos. Estamos juntos. Contem sempre comigo. Este é um caminho que se faz lado a lado. Obrigado por se juntarem a nós!"

Mensagem do Presidente da República

O Presidente da República honrou os médicos com a sua mensagem neste momento simbólico, reconhecendo este juramento como um momento crucial do percurso profissional dos jovens médicos, "cerimónia que marca o início de uma vocação ao serviço dos outros, de forma contínua e até ao fim" da vida. Marcelo Rebelo de Sousa pediu que aos novos médicos que não emigrem: "Esperando eu e esperando que todos, a começar pelos responsáveis políticos nos quais me incluo, tudo façam o que é necessário para que possam ficar em Portugal".

Realçando o lado missionário da profissão médica, o Presidente da República alertou que os médicos "têm que estar permanentemente disponíveis para os outros". "A vossa felicidade vai passar pela felicidade dos outros, é feita pelos outros e para os outros. "Senão, não é nenhuma felicidade". Marcelo Rebelo de Sousa desejou a todos que tenham "uma vida cheia de sucesso, que seja verdadeiramente a realização dos vossos sonhos".
Por fim, o bastonário da Ordem dos Médicos e todos os médicos presentes nesta cerimónia em formato virtual leram o Juramento, o momento mais solene deste dia especial.

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