Apresentação do livro “Evolução das lógicas institucionais no campo da saúde em Portugal”, do cirurgião Paulo Simões

Apresentação do livro “Evolução das lógicas institucionais no campo da saúde em Portugal”, do cirurgião Paulo Simões

A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) promoveu, no dia 19 de fevereiro, a sessão de apresentação do livro "Evolução das lógicas institucionais no campo da saúde em Portugal", da autoria do Prof. Doutor Paulo Simões, cuja sessão contou, para além do autor, com as intervenções de: Carlos Cortes, Presidente da SRCOM; José Carlos Almeida, Secretário Regional do Sindicato Independente dos Médicos (SIM); Luís Filipe Silva, Diretor Serviço de Otorrinolaringologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e de Jorge Roque Cunha, Secretário Geral do Sindicato Independente dos Médicos que destacou a importância desta obra levada a cabo pelo docente da Faculdade de Ciências Médicas e também no ISCTE. "Recomendo a leitura desta obra que resultou de um estudo académico. É muio importante que os estudos académicos sejam também feitos por médicos", disse.

Carlos Cortes enalteceu também, tal como havia feito Jorge Roque da Cunha, o facto do autor médico analisar em detalhe as questões de organização do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o sistema em geral, e a questão das carreiras médicas. Ao olhar para as fotografias que estão expostas na sala Miguel Torga onde decorreu o lançamento de "Evolução das lógicas institucionais no campo da saúde em Portugal", Carlos Cortes destacou o facto do quanto os médicos foram importantes na construção do SNS". Assinalando o facto de não ser frequente um médico escrever com a preocupação de analisar estas questões estruturais da Saúde, trata-se pois, "de um contributo muito positivo. Os médicos têm uma visão que os outros profissionais não têm". Citando, de novo, as imagens que reproduzem o trabalho dos repórteres fotográficos de Coimbra – exposição inaugurada no âmbito das comemorações dos 40 anos do SNS, a 15 de setembro de 2019 – Carlos Cortes citou o caso retratado do cirurgião Manuel Antunes que nunca escondeu o seu conhecimento e intervenção na construção do edifício e a consequente manutenção do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais da Universidade de Coimbra. "Este é um contributo muito importante para nós médicos, para analisarmos a evolução da Saúde, a sua organização, e dou os meus parabéns ao sindicato por difundir o lançamento e a discussão desta obra em várias zonas do país. A Ordem dos Médicos apoiará sempre estas iniciativas".

Nesta sessão, o Secretário Regional do Sindicato Independente dos Médicos, José Carlos Almeida, disse: Desde o relatório das Carreiras Médicas em 1961 até à atualidade, nós assistimos à criação do SNS, à sua implementação, crescimento e agora às dificuldades crescentes, é consensual na sociedade que o SNS, tendo por base as carreiras médicas constitui uma das maiores realizações da sociedade portuguesa , com ganhos indiscutíveis para a saúde dos portugueses e também para a economia nacional". relatando constrangimentos recentes que dificultam a ação médica, José Carlos Almeida assume que a classe médica seja um alvo dos decisores políticos, tal a preponderância que os médicos têm no SNS. "Os diretores clínicos, que deveriam ser os guardiões, das boas práticas em saúde, não são eleitos pelos seus pares e são atualmente cargos de confiança política". E elencou mais problemas – "a teia burocrática da gestão intermédia, a proletarização do trabalho médico, (…) – geradores de "ineficiência , desgaste e da diminuição da qualidade da assistência médica à população".
Mas voltemos ao livro:
O cirurgião geral Paulo Simões (tesoureiro do SIM desde 1986) fez uma análise às alterações organizacionais do SNS ao longo das últimas décadas. O livro integra também o resultado de mais de 70 entrevistas a vários protagonistas do setor, desde membros de órgãos do Governo, deputados, associações profissionais, indústria farmacêutica, associações de doentes, gestores hospitalares e profissionais de saúde.

Para Luís Filipe Silva, Diretor Serviço de Otorrinolaringologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), este é sobretudo "um livro de estudo". Trata-se, a seu ver, "de um trabalho de sistematização, com crueza e clarividência, que nos ajuda muito a sistematizar". E antes de resumir a obra, recorda: "Quando entrei para o sindicato já lá estava o Paulo Simões, onde sempre foi uma referência. Pessoa culta". Do percurso do autor, lembra também a associação de estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa, a Ordem dos Médicos, a Federação Europeia dos Médicos Assalariados e os vários cursos de gestão em Saúde e refere que é atualmente professor do ISCTE. E, em seguida, dissecou a estrutura e o conteúdo do livro que está estruturado em cinco capítulos. "Na minha ótica, este livro centra-se numa das áreas mais importantes neste momento, do conhecimento dos médicos deste país: o conhecimento da área organizacional do trabalho e os modelos existentes ao longo de 50 anos", sublinha Luís Filipe Silva que critica o facto de os médicos estarem, agora, cada vez mais afastados da gestão hospitalar. E cita a expressão do autor do livro que alerta para a "perspetiva burocrático-industrial", tendo em conta a fuga dos médicos para o setor privado, as reformas antecipadas de médicos séniores, alterações de contratos …". Depois de terminar o resumo da obra, concluiu Luís Filipe Silva: "A lição que recebemos deixa-nos a sensação, para os médicos que conviveram nos três períodos que ele aponta, de que o papel do médico mudou muito ao longo das últimas décadas. E não foi para melhor, nem para os médicos nem para os doentes".

O cirurgião agradeceu ao anfitrião deste lançamento – o presidente da SRCOM – por estar nesta apresentação e por uma voz que pugna pela união dos médicos na defesa daquilo que é o profissionalismo. "O core deste estudo partiu de uma questão que coloquei em 2012: o que vai acontecer ao SNS com a intervenção da troika. "O que senti é que há um antes e um depois da Troika e que se acentuou a frustração dos profissionais e aumentou uma perceção da diminuição da qualidade de prestação de cuidados de Saúde e uma perda de legitimidade dos serviços públicos de saúde".
E foi assim que nasceu este trabalho no âmbito do doutoramento em Gestão pelo ISCTE-IUL, "para responder à seguinte questão: o que mudou, a nível institucional, e qual o impacto dessas alterações no SNS?". Quando perguntei isto, pensei: "já temos problemas graves, e concebi este estudo". E assumiu nesta sessão em Coimbra: "Quero deixar a esperança de que conseguimos ultrapassar esta fase de alguma instabilidade. Começam a emergir novas formas de profissionalismo." Carlos Cortes, por fim, agradeceu ao autor pelo excelente contributo que dá com esta obra e, acima de tudo, agradeceu pelo sentimento que deixa como mote: a esperança de um SNS pleno de futuro.

 
 
© Paula Carmo (texto e fotos)

 

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