A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) acolheu uma sessão de Receção aos novos médicos internos (Formação Geral e Formação Especializada) que iniciam o seu internato na sub-região de Coimbra da Ordem dos Médicos.
Na intervenção inaugural, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, deu nota do ineditismo desta sessão na Ordem mas que ela, por si, reflete desde logo a importância dos médicos internos no Serviço Nacional de Saúde na vertente assistencial bem como da importância dos internos no empenho que a Ordem tem com a formação médica. "Desejo a todos um bom 2020, que seja um ano repleto de felicidades e de afetos, no meio da nossa correria. Dou-vos a boas vindas ao vosso internato no distrito de Coimbra".
Nesta sessão, que contou com as intervenções de Pio Abreu (presidente da Sub-região de Coimbra, Inês Rosendo (Vice-presidente do Conselho Regional da OM); João Rodrigues, médico de família e vice-presidente da Administração Regional de Saúde do Centro; e Luís Trindade ( Coordenador do Internato do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra), contou ainda com a presença de Margarida Ornelas (presidente do Conselho de Administração do IPO Coimbra); Ana Pais (Diretora Clínica do IPO Coimbra); Manuel Teixeira Veríssimo (presidente do Conselho de Administração do Hospital Distrital da Figueira da Foz); Carlos Ordens (Diretor Executivo do ACes Baixo Mondego); Alcina Silva (em representação da Coordenação do Internato de Saúde Pública).
Carlos Cortes destacou dois aspetos relevantes, um dos quais relacionado com o Código Deontológico Médico que foi oferecido a todos os jovens médicos nesta sessão. "Em caso de dúvidas e nos momentos de dificuldades, de hesitação, os princípios éticos da nossa profissão são de uma ajuda inestimável", sublinhou. "Quisemos oferecer este pequeno livro, em formato físico, para destacar a importância deste documento que contém os nossos princípios e os nossos valores", disse.
Nesta iniciativa que teve lugar na Sala Miguel Torga (a 8 de janeiro de 2020, na sede da SRCOM, em Coimbra), e que pretendeu juntar os internos que irão iniciar funções nos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACeS) e hospitais do distrito de Coimbra, o presidente da SRCOM destacou ainda outras questões relacionadas com a atualidade, sublinhando que apesar da inovação tecnológica ir substituindo, pouco a pouco, o papel dos médicos, há que enfatizar o seguinte: "Por mais que haja boa tecnologia, quem necessita de ter cuidados de saúde o doente quer e merece que esteja 'do outro lado' ou 'à sua frente' esteja um ser humano. Tem de se dar valor a esta relação". A este propósito lembrou a publicação, recentemente, de um livro "A relação médico doente – Contributo da Ordem dos Médicos", editado pela By tHe Book. "Temos, a este propósito, de voltar a pensar qual é o papel do médico hoje, na sociedade e nos sistemas de saúde".
Reportando-se a esta fase importante, Carlos acentuou: "Nós somos treinados para sermos exigentes, apelo à vossa dedicação e entrega para serem bons profissionais e bons especialistas. Pedem muito aos internos mas vocês podem também exigir, não se conformem com aquilo que vos dão". Por fim, vaticinou: "Sejam felizes como médicos e como pessoas".
A sessão contou com as intervenções de Inês Rosendo, vice-presidente da SRCOM e de José Luís Pio Abreu, Presidente da Sub-Região de Coimbra da Ordem dos Médicos. A médica de família relembrou o início do seu internato "com o misto de alegria e, ao mesmo tempo, de ansiedade", deixando a convicção de que "estes serão os anos mais desafiantes da vossa vida e que vos vão deixar saudades". Acentuou Inês Rosendo: "É uma altura com muito trabalho e os tempos modernos não ajudam; as questões políticas e de organização do nosso país também não ajudam; falamos em violência e em burnout, questões que vamos acompanhando na Ordem". "Temos uma profissão que facilmente nos dá uma satisfação direta no contacto com as pessoas, nossos colegas, nossos pacientes, o que nos dá um sentido de missão de vida. A minha orientadora também sempre me foi dizendo que 'há uma vida lá fora'". Inês Rosendo exortou ainda os jovens colegas a desempenhar um papel interventivo na Ordem, recordando, por exemplo, a existência de vários gabinetes cuja estrutura vai prosseguir no próximo mandato, para ajudar a organizar, ajudar a melhorar: gabinetes de ética; apoio ao médico; apoio ao doente; gabinetes para as áreas das tecnologias e do médico no estrangeiro; e, ainda, para a formação que irá novas formas de abordagem no próximo triénio.
Também para o médico psiquiatra Pio de Abreu, o "mais importante é esta fase", fazendo a sua intervenção com recordações do seu percurso no serviço médico à periferia e, antes, na guerra colonial, em Bolama (Guiné), onde desembarcou integrado num batalhão com mais dois médicos. Ao defender que a sua especialidade é das mais desafiantes no futuro, Pio de Abreu citou um caso clínico massivo que, resolvido, o colocou quase nos patamares dos heróis: "É nas alturas em que um médico se revela, fazendo uma coisinha de nada que pode solucionar um grave problema; ou fazendo uma pequena manobra que vai salvar uma vida", sublinhou.
João Rodrigues, Vice-presidente da ARS Centro, desde maio de 2019, assumiu: "Quando ouço o Carlos Cortes dizer – e concordo totalmente com o diagnóstico- que nós não temos tempo, somos pressionados – a primeira reação que tenho é: por quem? A minha mensagem é a seguinte: nós vamos mudar isto rapidamente nos próximos tempos. Acredito que vamos ter de reinventar a carreira médica, reinventar a liderança clínica, quem gere a nossa agenda somos nós".
Por seu turno, Luís Trindade, Coordenador do Internato do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, representando a coordenação do Internato Médico da Zona Centro, assumiu que os programas de formação pós-graduada são dos melhores da Europa. "Reconheço que os Colégios de Especialidade [da Ordem dos Médicos] fazem um trabalho excelente", lembrando que os hospitais, centros de saúde e Ordem também se devem preocupar com a formação dos colegas que ficam sem acesso à especialidade.
Recorde-se que, após a conclusão do curso de Medicina, os médicos candidatam-se a um concurso nacional para admissão no internato médico, numa escolha dos locais e das áreas de formação específica (especialidades).
Texto e Fotos ©SRCOM / Paula Carmo