Este ano, em novembro, 420 jovens médicos prestaram o Juramento de Hipócrates, em duas cerimónias distintas, em Coimbra, no Auditório do Convento São Francisco e na Covilhã, no auditório da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior.
Este juramento tem mais de 2500 anos, foi escrito na Grécia antiga, no berço da civilização ocidental, na nação criadora da democracia e das liberdades individuais. E é com este Juramento que os médicos iniciam a sua carreira profissional. É com base neste plácito que assenta o altruísmo médico e a sua dedicação permanente aos seus doentes. Passados tantos séculos e tantas mudanças na Ciência, na Medicina e na História, continua a impressionar a contemporaneidade do Juramento de Hipócrates e a sua aplicação à ética moderna.
Este ano, com estas cerimónias foi dado um sinal claro do empenho dos médicos em valorizar e dignificar a ética e o humanismo integrantes da profissão médica.
Recordamos que este compromisso solene – o Juramento de Hipócrates – continua atual e a servir como referência ética da profissão médica. É um compromisso que nos permite olhar para o futuro da profissão médica tendo sempre presente o nosso desafio-maior: o lado humano. Mais importante do que a doença e sua erradicação é o Ser Humano e a sua Dignidade. A decisão é partilhada e absolutamente respeitadora da vontade do doente em colaboração com o seu médico.
Vivemos, no entanto, tempos conturbados fruto de uma desumanização e de uma globalização galopante. Apesar do progresso técnico, científico e tecnológico, a humanização dos cuidados de saúde e a preservação do bem-estar dos doentes são relegadas para segundo plano. No caso do Serviço Nacional de Saúde (SNS), uma das maiores conquistas da nossa ainda jovem Democracia, ele resistiu porque está sustentado na entrega e no empenho de todos os seus profissionais.
O Serviço Nacional de Saúde está hoje sujeito a uma exigência sem precedentes. Por força dos avanços tecnológicos e da própria evolução científica, os meios de diagnóstico e de tratamento são cada vez mais eficazes e cada vez mais onerosos. A esperança média de vida ultrapassa os 80 anos e obriga a um esforço sem precedentes de cuidados de saúde que proporcionam o bem-estar e uma vida ativa e saudável.
Enfrentamos uma lista longa de problemas, sem vislumbre de resolução a curto prazo, designadamente em virtude de uma péssima gestão de recursos humanos e desarticulação entre os centros de Saúde e os hospitais. Urge desenhar reformas que possam ajudar à sustentabilidade económica sem desprezar a qualidade dos cuidados bem como da manutenção da equidade e universalidade do SNS.
A par da sua função assistencial e formativa, absolutamente essencial para o país poder ser autónomo e capaz de sustentar um serviço público de saúde, o Serviço Nacional de Saúde sempre teve um papel social que não podemos descurar: ajudar de forma igual e justa todos os que recorrem a ele.
A defesa do SNS como elemento agregador da sociedade portuguesa, alicerce da nossa coesão social, é outro desafio histórico de resistência. Anualmente, o 15 de setembro (em que se assinala o Dia do SNS) remete-nos para uma reflexão profunda sobre o Serviço Nacional de Saúde. Os seus mentores e fundadores serão sempre recordados, não num momento de passadismo estéril, mas numa inspiração para um futuro esperançoso.
Porém, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos continuará a ser baluarte na defesa dos doentes e da Medicina baseada na ciência, bem como da prática dos melhores cuidados de Saúde. É cada vez mais crucial o papel da Ordem dos Médicos na defesa de uma Medicina qualificada, de formação médica de excelência.
Hoje, precisamos sobretudo de diálogo, de confiança e de nos tratarmos como Pessoas reconhecendo o papel dos profissionais e as necessidades dos doentes, isto é, um Serviço Nacional de Saúde mais humanizado.
A motivação dos profissionais é um fator incontornável de progresso e qualidade do sistema de saúde. O reconhecimento do papel dos profissionais tarda em ser reconhecido por parte dos responsáveis do setor da Saúde.
É imperativo valorizar quem, diariamente, faz viver o SNS.
A par da grandeza dos que conceberam e construíram o nosso sistema de Saúde, com coragem e resistência, saibamos agora – também nós – defender e edificar o futuro com renovada esperança.
Carlos Cortes
Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos
Coimbra, 21 de dezembro de 2018