Dia da FMUC: “É prioritário repensar a Escola e a Universidade”, assume Duarte Nuno Vieira

Dia da FMUC: “É prioritário repensar a Escola e a Universidade”, assume Duarte Nuno Vieira

Necessidade de reflexão, capacidade de análise e também de um novo pensamento com visão de futuro – assim se poderá resumir, em traços gerais, o acutilante discurso do atual diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, na sessão solene do Dia da Faculdade de Medicina que se assinala a 16 de outubro. Os apelos surgem, aliás, num momento decisivo, no dealbar do próximo momento de sufrágio na universidade.
Ao afastar a hipótese de se recandidatar ao cargo e de se perfilar como candidato à Reitoria da Universidade de Coimbra, Duarte Nuno Vieira convocou toda a comunidade para as mudanças que se pretendem céleres.
Crítico, incisivo, discordante do método eleitoral que existe nas universidades portuguesas, Duarte Nuno Vieira catalogou o seu discurso como se fossem "notas dispersas" contrariando a noção de que poderá ser "um desfiar de queixas e reivindicações". No momento em que a UC se prepara para escolher novo reitor, Duarte Nuno Vieira lançou algumas reflexões que, esclareceu, "não são críticas diretas ou indiretas para quem irá terminar funções" na Reitoria.
Nestas suas "notas dispersas" assumiu, desde logo, que discorda do método de eleição nas universidades portuguesas e que apenas se revê numa "eleição reitoral universal, entre toda a comunidade académica – docentes, investigadores, pessoal técnico e discentes ainda que com pesos eleitorais distintos", assim como considera "absolutamente absurdo um mandato de apenas 24 meses que a universidade perspetivou para os diretores das suas faculdades e que é incontestavelmente aberrante", asseverou. "Tenho dito reiteradamente que pensar a nossa Escola e redefinir as suas linhas de orientação para o futuro e – deve ser – uma das nossas prioridades. Creio que o mesmo sucede relativamente à Universidade".
De facto, ao longo da sua intervenção, o diagnóstico que traçou não é animador. "A Universidade de Coimbra não pode continuar a ter um plano estratégico que enuncie um conjunto de compromissos, ou diria antes, de desejos, de idealismos e de excelência (palavra esta que já cansa) mas que, no essencial continuam a ser frases escritas no papel sem que se vislumbre um plano efetivo aglutinador e mobilizador e eficaz para a sua concretização, o que seria decisivo para o nosso futuro". Assume: "A culpa é de todos. De todos os que exercem funções na universidade e dos que nela vêm colher a sua preparação para o futuro, sem exceção, pelo daqueles que permanecem acomodados".

Polo da Saúde continua por concluir

Ao dar exemplos, citou desde logo a situação atual do Polo III onde se situa o atual Polo das Ciências da Saúde, "uma área fundamental para a universidade no dizer de todos os sucessivos reitores e que no entanto permanece por concluir desde há anos, num estado de quase abandono. Acrescento que, mesmo depois de concluído, e a ser feito apenas o que está projetado não proporcionará condições melhores do que aquelas que a faculdade dispunha no passado no Polo I. A Faculdade de Medicina está hoje dispersa por quatro locais funcionais, com todas as dificuldades e encargos adicionais que tal situação implica e a evolução que lhe foi proporcionada em termos de instalações foi indiscutivelmente para pior.". Para além da sua preocupação com a conclusão das obras, Duarte Nuno Vieira chega mesmo a aventar que alguma vez as obras tenham sido pensadas, uma vez que não espelham uma visão de futuro. "As novas instalações de que dispomos para além da péssima qualidade de construção são atrofiadoras de um desejável crescimento e desadequadas às necessidades". A seu ver, "falta também à faculdade de Medicina a renovação de equipamentos e ampliação do seu parque tecnológico" a que se junta a falta de recursos humanos para as diversas unidades orgânicas, criticando a existência de bolseiros precários.

Por fim, Duarte Nuno Vieira lembrou os docentes jubilados e aposentados no ano letivo 2017/2018, a quem foi prestada uma homenagem, agradecendo "a contribuição valiosa que deram de acordo com as circunstâncias e os ditames da consciência".
Num derradeiro lamento, afirmou: "Peço desculpa aos que tiveram de abandonar a sua cidade e o seu hospital para conseguirem ter encontrado o espaço de que necessitavam para darem continuidade às suas carreiras". Duarte Nuno Vieira não deixou de enaltecer, em forma de homenagem sentida, a memória de dois ilustres professores desta escola médica e da Medicina portuguesa: Agostinho Almeida Santos e Francisco Castro e Sousa. Aos novos alunos desejou os "maiores êxitos e venturas". Neste dia especial, a FMUC agradeceu e homenageou o professor de Medicina Rafael António de Sousa Caixeiro, cuja família legou a esta faculdade, o seu acervo pessoal.

Em seguida, coube ao cirurgião Manuel Antunes, em nome dos jubilados e aposentados desta Escola Médica, deixar bem vincado o agradecimento público por esta homenagem da FMUC. Ao intervir nesta cerimónia solene, Manuel Antunes voltou a protagonizar as críticas de quem tem de abandonar as funções públicas ao atingir os 70 anos de idade.
Nesta sessão, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), para além de agradecer aos seus mestres, aproveitou ainda o ensejo para cumprimentar os atuais e anteriores dirigentes da Ordem dos Médicos. "O papel e o valor das pessoas no desempenho das instituições é fundamental. Apesar de existirem dificuldades, são as pessoas que fazem viver as instituições". Ao referir-se ao discurso do atual diretor da FMUC, Carlos Cortes lembra que "ano após ano, repetem-se as queixas. Quase há 20 anos". Razão pela qual destacou a tenacidade dos que, com empenho, sacrifício e dedicação, toram possível a excelência das instituições. Carlos Cortes não deixou ainda de evidenciar o papel essencial da FMUC na sociedade portuguesa, não apenas ao nível da formação pré-graduada, na atividade "relevantíssima" na atividade científica, mas também pelo papel social que desempenha na formação dos profissionais de Saúde. "Papel de exigência, de solidariedade e um papel ético e de humanismo", sublinhou o presidente da SRCOM. "É importante que tenhamos uma faculdade forte. Esta faculdade precisa de ter condições", numa clara alusão às palavras do atual diretor da FMUC. Ao referir-se a Duarte Nuno Vieira e à relação entre a FMUC e a OM, Carlos Cortes lembrou, aliás, que sempre "teve um papel muito próximo, muito dialogante mas também muito crítico (e não posso deixar de lhe agradecer por isso)". Concluiu: "Para mim, só faz sentido estas duas instituições continuarem a estar ligadas de forma muito especial".
Esta sessão solene contou ainda com as intervenções do Vice-reitor da Universidade de Coimbra, Luís Menezes; do Vice-diretor da FMUC, Paulo Moura, na homenagem aos docentes jubilados e aposentados no ano letivo 2017/2018 (António Freire Gonçalves; Carlos Braz Saraiva; Fernando José Oliveira; Jorge Pimentel; Luís Cunha; Manuel Antunes); da Presidente da Direção do Núcleo de Estudantes de Medicina Dentária da Associação Académica de Coimbra, Maria Moreira; do Presidente do Núcleo de Estudantes de Medicina da Associação Académica de Coimbra, José Borges.

Dirigentes associativos destacam excelência da profissão médica

"Que se continuem a fomentar os valores de profissionalismo e de excelência que caracterizam esta faculdade. Do estudante ao professor jubilado, para todos aqueles que dia após dia depõem esforço e esperança nesta casa, lutemos lado a lado e atuemos em sinergia para o mais belo bem comum que depomos na arte médica. Não poderia deixar de felicitar e congratular os meus colegas que hoje são distinguidos pelo seu aproveitamento no passado ano letivo e por continuamente serem o espelho do ensino que é praticado nesta faculdade. Apelo ainda para que a vertente humana seja uma constante no decorrer do vosso exercício médico e que acima de tudo se sintam realizados e concretizados com o peso da bata branca.", afirmou José Borges.

"A principal razão pela qual todos procuramos aprimorar os métodos de ensino e de formação profissional e pessoal, é para que, no final, tenhamos um maior aproveitamento por parte dos estudantes do que lhes é lecionado e que isso se reveja no exercer da sua função médica no seu dia-a-dia. Tratamos seres humanos e não doenças. É isso que esta faculdade nos transmite. Hoje, apesar de o tema ser ‘'Direitos Humanos'', vamos reconhecer os deveres dos estudantes e o seu cumprimento com elevado sucesso. Hoje, serão publicamente reconhecidos colegas que, pelo seu extraordinário esforço e
dedicação, conseguiram destacar-se. Quero desta forma congratular-vos pelo que alcançaram, pela vossa postura e espírito de
sacrifício. São uma inspiração e motivação para todos nós e certamente o vosso percurso será preenchido pelos sucessos e conquistas", afirmou Maria Moreira.

Foram ainda entregues os prémios aos melhores alunos dos cursos de Medicina e Medicina Dentária no ano letivo 2016/2017. Catarina Marçal Silva e Fátima Isabel Azevedo de Sousa receberam os Prémios CGD.

 

70 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem

Dada a importância de "refletir sobre a medicina e direitos humanos", este ano, a Faculdade de Medicina contou com a presença da Provedora de Justiça de Portugal, Maria Lúcia Amaral, que proferiu uma conferência no âmbito da comemoração dos 70 anos da aprovação da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Na sessão solene, a Provedora que traçou enumerou pontos de contacto entre a Justiça e a Medicina declarou: "A Medicina é a comprovação quotidiana da universalidade da condição humana".
Esta sessão solene lotou auditório da subunidade 3 do Polo das Ciências da Saúde, com inúmeras personalidades da Escola Médica de Coimbra, das restantes faculdades da Universidade de Coimbra, e ainda de representantes do Instituto Politécnico, e da Câmara Municipal de Coimbra.

 

Texto e Fotos @SRCOM / Paula Carmo

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