A Ordem dos Médicos (OM) deu as boas vindas aos novos Internos da Especialidade de Cirurgia Geral na sede da Secção Regional do Centro, em Coimbra, através do curso que decorreu nos dias 26 e 27 de janeiro. O programa, que contou com a participação de palestrantes de reconhecido mérito e prestígio, incluiu à semelhança dos anos anteriores, um Curso Básico de Trauma.
A cerimónia de abertura, na manhã de 26 de janeiro, às 10h00, contou com as presenças de Miguel Guimarães (bastonário da OM), Carlos Cortes (presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos), Henrique Cabral (do Conselho Nacional do Médico Interno), Menezes da Silva (Presidente do Colégio de Cirurgia Geral da Ordem dos Médicos), Guilherme Tralhão (em representação do presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia, Eduardo Barroso), Lurdes Gandra (em representação do presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, António Araújo).
Na sua intervenção, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, deixou rasgados elogios ao Colégio da Especialidade de Cirurgia Geral e ao Conselho Nacional do Médico Interno que, com dinamismo e importantes iniciativas como esta, estão a pugnar pela qualidade da formação médica e bem como pela defesa da dignidade cirurgia. Porém, antes de prosseguir na sua intervenção, Carlos Cortes evocou "o homem, o médico, o professor, o cirurgião" Castro e Sousa, que falecera nessa semana: "foi um reputado cirurgião, foi meu mestre", disse, acrescentando que esta homenagem é também em nome da Secção Regional do Centro. A seu pedido, foi prestado um minuto de silêncio em honra do Professor Doutor Francisco Castro e Sousa, catedrático de Medicina da Universidade de Coimbra. Também o cirurgião Guilherme Tralhão, num sentido testemunho, destacou o percurso do professor de cirurgia: "Por mais de 40 anos, notável foi a sua influência e permanente empenho em prol da excelência" (…)". Lembrou o "excecional comunicador", recordou o quanto o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra "lhe deve, em particular na vivência clínica diária nos mais de 30 anos de diretor de Serviço."
Após a singela mas muito sentida homenagem ao Professor Catedrático de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Carlos Cortes colocou o acento tónico no papel da Ordem dos Médicos na defesa da qualidade da formação médica. "Esta é uma das principais preocupações da Ordem dos Médicos que tem como função desenhar e elaborar os programas de formação que a seguir cabe ao Ministério da Saúde (MS) aplicar nas instituições. "Lamento que o MS não esteja à altura desta responsabilidade, uma vez que a Ordem dos Médicos coloca grande exigência nos programas formativos". Exemplificou: "A Ordem dos Médicos envia, anualmente, centenas de relatórios com as falhas que existem nos serviços a fim da sua correção em nome da qualidade da formação mas o Ministério da Saúde nunca responde". o presidente da SRCOM criticou a "degradação vertiginosa do Serviço Nacional de Saúde" caso não existam medidas concretas de salvaguarda de especialistas de qualidade. Carlos Cortes aludiu também ao papel da Ordem dos Médicos na formação, área para a qual a Secção Regional do Centro desenvolveu o portal da formação. Tema incontornável na sua intervenção – a relação médico-doente – Carlos Cortes destacou a inolvidável relação que o doente mantém com o cirurgião que é "uma relação inquebrável para o resto da vida". "Nunca se esqueçam disto: a relação que vão ter com o vosso doente vai ficar registada para sempre".
Aos mais novos, exortou-lhes ainda o desempenho do papel de "médico-cidadão", isto é, profissionais com capacidade de intervenção na sociedade. "Não sejam apenas exigentes convosco próprios ou com os vossos mestres, sejam inconformados se sentirem que não têm as condições adequadas para exercer Medicina como vos ensinaram, se virem que o doente está a sofrer por falta de material, por falta de meios humanos no Serviço Nacional de Saúde". Disse: "Experimentem outra exigência, para além da técnica e científica, porventura mais difícil de executar: a exigência da cidadania, a exigência do inconformismo".
Para o Bastonário da Ordem dos Médicos esse também é um papel relevante dos médicos e, lembrando Miguel Torga pseudónimo do médico Adolfo Rocha que dá nome à sala onde decorreu este curso, não deixou de enaltecer o seu estímulo para desenvolver o trabalho que deixa uma marca na sociedade. Depois de falar sobre a relação médico-doente e a sua importância no contexto atual, bem como da necessidade do médico ter um papel cívico interventivo, Miguel Guimarães deixou uma palavra de apreço ao atuais responsáveis do Colégio de Cirurgia pelo "magnífico trabalho" em prol das boas práticas médicas, seja em ações clínicas seja em ações de formação. "As sociedades têm permitido que se faça formação médica contínua e que existam alguns apoios externos importantes", assinalou.
O Bastonário destacou ainda criação por parte da Ordem dos Médicos do Fundo nacional de Apoio à Formação para ajudar os profissionais médicos a atualizar os seus conhecimentos. Recorde-se que o fundo começou com uma verba de 210 mil euros e vai funcionar tal como o já existente fundo de solidariedade, isto é, de forma independente, com uma comissão executiva própria e com um regulamento nacional. "Esta questão vai marcar o trajeto da Ordem nos próximos anos", sublinhou. Na sua opinião, esta ferramenta de apoio é crucial pois a formação médica tem custos elevados. Ao intervir na sessão de abertura do curso de receção aos internos de Cirurgia Geral, o Bastonário da Ordem dos Médicos anunciou, entretanto, que as especialidades de Anestesiologia, Obstetrícia e Cardiologia serão as primeiras a ser auditadas pela Ordem dos Médicos. "Alguns partidos políticos querem uma auditoria à Ordem dos Médicos e ao trabalho dos colégios de especialidade. Pois bem. Agora somos nós a querer. Avançaremos, desde já, com as especialidades de Anestesiologia, Obstetrícia e Ginecologia e Cardiologia". Assumiu: "Tenho a certeza que esta auditoria vai demonstrar que os médicos que participam no trabalho da Ordem fazem um bom trabalho, porque as direções dos colégios são exigentes com a formação". "O Carlos Cortes falou há pouco na degradação do Serviço Nacional de Saúde. É verdade, isso está a acontecer. Mas o melhor são as pessoas. Os nossos especialistas são excelentes profissionais e gostam de ensinar. Esta é, aliás, uma imagem de marca de Portugal que é reconhecida na Europa". Segundo o Bastonário, faltam, no mínimo, "entre quatro a cinco mil jovens médicos e isso está a prejudicar o serviço". Miguel Guimarães destacou também o papel e o percurso do Catedrático de Cirurgia, Francisco Castro e Sousa, que falecera nesta semana.
Neste curso foram apresentados e discutidos inúmeros temas da maior relevância para esta especialidade, tais como: "Comunicação em Medicina", por José Manuel Portugal; "Erro Médico", por José Fragata; "Aspetos Médico-Legais" e "Regime de Trabalho", por Álvaro de Matos; "Papel do Orientador de Formação", por John Preto; "Registo da Atividade Diária", por Ana Couceiro; "A Cirurgia Geral como especialidade: Que futuro?", por Jorge Maciel; "A Cirurgia Geral nos Serviços de Urgência", Sandra Amado e Luísa Quaresma; "Áreas de Interesse: Que Subespecialidades", por João Pimentel; "Centros de Referência: Como Credibilizar?", por Júlio Leite; "Consentimento Informado", por José Augusto Martins; "Profilaxia do tromboembolismo venoso", por Pratas Balhau; "Prevenir as complicações", por Luís Filipe Pinheiro; "O Doente Crítico", por Jorge Pereira; e "As reuniões multidisciplinares de decisão" com Donzília Brito, Luís Semedo, Gabriela Sousa, Inês Nobre Góis e Fátima Carneiro. Para além da participação de palestrantes de reconhecido mérito e prestígio, incluiu à semelhança dos anos anteriores (em Lisboa e Porto), um Curso Básico de Trauma. É intenção desta direção do Colégio da Especialidade de Cirurgia Geral efetuar estes simpósios noutros locais do País.
Na última intervenção, Menezes da Silva, Presidente da Direção do Colégio da Especialidade de Cirurgia Geral da Ordem dos Médicos, recordou outros tempos em que a formação médica era deveras apoiada. "Tudo faremos para que estes cursos (como este) sejam motivadores e atrativos. Não se esqueçam que o vosso internato vai durar seis anos. Todos os dias há coisas para fazer, façam-no com calma, com dedicação, com amor à arte. Muitas felicidades para todos".