Coimbra voltou a receber Congresso Nacional de Medicina, este ano, com o tema “Relação Médico-Doente: Património do Ser Humano”

Coimbra voltou a receber Congresso Nacional de Medicina, este ano, com o tema “Relação Médico-Doente: Património do Ser Humano”

Coimbra recebeu, no Auditório da Fundação Bissaya Barreto, o 20º Congresso Nacional de Medicina e o 11º Congresso Nacional do Médico Interno, nos próximos dias 18 e 19 de novembro.

Em torno do tema central "A Relação Médico-Doente: Património do Ser Humano", o evento organizado pela Ordem dos Médicos, abordou, durante dois dias, vários temas de inegável relevo tais como a candidatura a Património Imaterial da Humanidade da Relação Médico-Doente, a comunicação médico-doente, a relação médico-doente na essência da Medicina, o Direito à verdade e privilégio terapêutico, 'A Neurociência da relação médico-doente', entre outros.

O Bastonário da Ordem dos Médicos reiterou a importância deste tema, na medida em que é cada vez mais essencial colocar ênfase na relação humana entre o médico e o doente. "O projeto liderado pela Ordem dos Médicos espanhola de transformar esta relação em Património Imaterial da Humanidade da UNESCO é uma mais-valia, uma vez que acompanha a evolução técnica preservando a humanização dos cuidados de saúde", sublinhou. "Esta relação é a essência da Medicina", frisou o presidente deste congresso.
Para o presidente executivo deste congresso, Carlos Cortes, este congresso ficou enriquecido com palestrantes oriundos de várias áreas do saber que reiteraram a "absoluta necessidade de manter, salvaguardar e garantir esta relação insubstituível". 

De acordo com o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos: "Por mais que evolua a tecnologia, nunca poderá substituir a ligação entre o ser humano doente e o médico". Carlos Cortes não deixou de aludir às dificuldades sentidas pelos médicos designadamente em virtude "da carga burocrática" e da ditadura economicista. "Nos tempos fundadores do Serviço Nacional de Saúde, "as pessoas sabiam que estavam a produzir algo para o País e sabiam, exatamente, qual era o seu papel. E, sobretudo, que eram reconhecidas por esse papel", destacou Carlos Cortes. Mas há mais obstáculos a ter em conta, designadamente a existência de equipamentos do século passado", condições que considera "degradantes".
Ainda na senda da relação médico-doente, o presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, António Araújo, esta relação é fulcral: "Este congresso teve o dom de abordar uma temática atual. Isto porque, numa civilização que se quer muito mecanicista e hoje em dia muito informatizada, abordou-se o elemento essencial do ato médico: a relação médico-doente". Por seu turno, Alexandre Valentim Lourenço, destaca a importância deste congresso nacional onde se efetuou o debate da "centralidade da Medicina no doente, na relação com o doente, nas formas de comunicação e nos princípios éticos. É para a Ordem importantíssimo, nesta área, ter as ideias muito bem assentes e projetar a sua atividade futura. A Ordem dos Médicos fará 80 anos no próximo ano e consegue manter os seus valores tradicionais, fulcrais para o desempenho da Medicina, em prol dos doentes". Na sua opinião, "a partir deste congresso, estaremos mais capazes de elaborar projetos, rejuvenescer a área médica e com ela projetar uma Saúde de futuro nos próximos anos". 

De entre os inúmeros temas, a comunicação médico-doente foi o que marcou o início dos trabalhos deste congresso. O Coordenador nacional do Conselho Nacional do Médico Interno, Edson Oliveira, deixou o enfoque na necessidade de adquirir competências para a comunicação médico-doente "nesta nova sociedade" alertando que cada especialidade tem a sua especificidade. Interveniente nesta sessão, a Diretora da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz, Isabel Galriça Neto, vincou a ideia de que "a comunicação sempre foi central na prática médica, porque nos relacionamos com pessoas. Cada vez mais, as expectativas das pessoas que tratamos são mais elevadas em relação a esta área da comunicação e há que preparar os médicos cada vez melhor para essas expectativas".
O humor também teve lugar neste congresso: "Sempre tive o humor como uma das minhas ferramentas", justificou Marine Antunes, autora do projeto "Cancro com Humor".

Ainda antes da cerimónia de entrega das medalhas de mérito da Ordem dos Médicos, a discussão centrou-se na relação médico-doente e na candidatura a apresentar à UNESCO para a classificação desta relação a Património Imaterial da Humanidade. "Esta relação tem sofrido muitos desafios, nos últimos anos", aludiu o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos. Para Alexandre Valentim Lourenço (que esteve na mesa de debate com Daniel Sampaio, Maria de Belém Roseira e Marlene Carriço), as condicionantes externas podem prejudicar o clima de confiança que é obrigatório nesta relação. A antiga ministra da Saúde e ex-presidente da Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde, "a cultura da humanização deixou de ser falada. Evidentemente que muitos a praticam mas como grande orientação macro". Em seu entender, "é fundamental termos a preocupação de centrar no doente, porque uma pessoa doente é especialmente uma pessoa vulnerável". Já o psiquiatra Daniel Sampaio refere que este tema não se pode esquecer, dando conta que nas faculdades de medicina este tema é treinado. "Na prática dos médicos, a pressa, a burocracia, as novas tecnologias, este tema tem sido esquecido". 

Patrício Martinez, coordenador do Fórum da Profissão Médica para a Declaração da Relação Médico-Doente a Património Imaterial e Cultural da Humanidade (Ordem dos Médicos Espanha): "Nos últimos 50 anos a relação médico-doente tem estado ameaçada, tanto por influência política, científica, económica". O mentor deste projeto de candidatura à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), sustenta: "Era necessário dar um passo adiante e fazer uma candidatura para este reconhecimento".
"A defesa da humanização desta relação é um obrigação de todos nós", aludiu o Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

Em destaque, no primeiro dia, 18 de novembro, pelas 18h00, a cerimónia de entrega das medalhas de mérito da Ordem dos Médicos, distinção conferida aos médicos que "pela sua atividade e mérito pessoal tenham contribuído relevantemente para a dignificação da profissão médica, da medicina em geral e da Humanidade".

 

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