Celebram-se, em Coimbra, os 25 anos de transplantação hepática e o cirurgião que liderou a equipa na operação que marcou o dia 26 de outubro de 1992 recordou este avanço sublinhando que Portugal nunca se atrasou em demasia em relação a outros países. Numa organização conjunta, a Ordem dos Médicos e a Unidade de Transplantação Hepática Pediátrica e de Adultos (UTHPA) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, recordam este feito histórico e o progresso científico desde então.
Foi ao final da tarde do dia 23 de setembro, no arranque de um ciclo de cinco conferências sobre esta temática e uma exposição concebida especialmente para este evento, que o Professor Linhares Furtado lembrou o ambiente da época, a "complexidade" da cirurgia, a "esplêndida colaboração inter-hospitalar" e a "relevância" de todas as especialidades médicas, sem descurar o papel da enfermagem nesta matéria.
Para o anfitrião, Carlos Cortes, "a transplantação é um dos grandes marcos da ciência, da medicina e da história", frisou na intervenção que efetuou na sessão de boas-vindas. Horas mais tarde, já na inauguração da exposição (patente no Clube Médico e na Sala Miguel Torga), o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos sublinhou que este marco histórico "é uma grande lição de coragem e de luta". Apesar "das dificuldades que ainda hoje existem, continuamos a acreditar que é possível mudar o mundo e termos coragem para fazer um mundo melhor". Ao endereçar o convite para que visitem esta exposição cujo núcleo principal se situa nos dois pisos do Clube Médico, Carlos Cortes destacou o facto desta exposição representar "um dos maiores sinais de altruísmo e solidariedade". "As pessoas dão parte da sua vida para outro ter vida". Carlos Cortes quis também expressar o reconhecimento da Ordem dos Médicos a todos quantos são protagonistas deste progresso científico em prol dos doentes. Este é o "reconhecimento do trabalho dos profissionais de saúde, da sua entrega à causa dos doentes", sublinhou o presidente da SRCOM.
Na sua intervenção nesta sessão, Linhares Furtado frisou ainda o excelente acolhimento por parte da população portuguesa que tornou possível que cada pessoa seja um potencial dador. Hoje, a taxa de sobrevivência na UTHPA, coordenada pelo seu filho cirurgião Emanuel Furtado, é de mais de 90 por cento, muito diferente dos 40 por cento no início da década de 70 do século passado. "Espero que daqui a cinco anos a taxa seja de 99%", vaticinou o cirurgião. Reportando-se "à grande aventura do século", explicou: "Foi gratificante para nós, no dia em que o Homem foi à Lua – também nós – iniciámos as colheitas de rins". "Os grandes protagonistas da ida à Lua arriscam a própria vida, os cirurgiões não", lembrou no dia inaugural da exposição que ficará patente ao longo do ciclo de conferências que irão decorrer nos dia 30 de setembro, 7,14 e 21 de outubro).
Momentos antes, curiosamente, ao citar uma obra do professor Linhares Furtado, Carlos Cortes usara também a expressão "a grande aventura do século" para este feito histórico, este marco na civilização e na Humanidade, ao ser desbravado o caminho "de esperança para muitos doentes".
No final desta sessão, ouviu-se uma forte ovação endereçada ao pioneiro da transplantação Linhares Furtado. Na lotada Sala Miguel Torga, Maria de Fátima Ferreira, feliz e visivelmente emocionada, estava a primeira transplantada. Esta protagonista deste programa de transplantação fez questão de tirar inúmeras fotografias junto das notícias dos jornais onde é citado o seu caso de sucesso.
Esta mostra retrata a evolução da transplantação hepática, com inúmeros recortes de imprensa, fotografias de técnicas cirúrgicas e registos médicos. A exposição irá depois para o átrio do pólo dos Hospitais da Universidade de Coimbra do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, de 26 de outubro a 28 de dezembro de 2017.