Terceira greve nacional de médicos: reunião de esclarecimento em Coimbra

Terceira greve nacional de médicos: reunião de esclarecimento em Coimbra

É a terceira vez que os sindicatos médicos se unem para uma greve nacional e a primeira vez que o atual ministro da Saúde enfrenta uma paralisação desta envergadura. Trata-se, agora, de um protesto pela ausência de medidas concretas do atual Executivo liderado por António Costa, no que toca à limitação do trabalho suplementar
A antecipar o protesto, decorreu na Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) uma sessão de esclarecimento, na qual marcaram presença dirigentes sindicais e da Ordem dos Médicos. O presidente da SRCOM, Carlos Cortes lembrou as duas anteriores greves, cujos motivos destas paralisações ainda se acentuaram mais. "Cada vez temos mais dificuldades, o burnout dos médicos é uma realidade, a forma como somos tratados no nosso local de trabalho" são pontos pelos quais estamos aqui reunidos. "As dificuldades que nos são colocadas todos os dias, fala-se muito da emigração médica – não é por acaso – nos outros países os médicos são respeitados. Aqui apontam aos médicos as insuficiências criadas pelas próprias instituições. Os médicos têm o dom da paciência. À imagem de todo o povo português, estoicamente, os médicos foram a classe profissional que sofreu mais impacto com a crise económica e dizem agora ‘chega!'", declarou.
Já Vitória Martins, presidente da Sindicato dos Médicos da Zona Centro, na sua primeira intervenção , deixou claro como "ponto fundamental" a necessidade imperiosa do Ministério da Saúde ouvir as reivindicações dos profissionais, criticando aquilo que designou de "surdez funcional" por parte dos responsáveis máximo da tutela. E vaticinou: "Não podemos esperar que os outros lutem pelas nossas lutas. Temos de estar todos unidos".
Coube entretanto ao Secretário-Geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, fazer a recente resenha das negociações com a tutela no sentido de se evitar esta greve. O propósito destes encontros seria concretizar o acordo estabelecido em 2012 (na sequência da anterior greve) e que deveria ter entrado em vigor em 2015. Recentemente, recordou o dirigente sindical, "dezasseis reuniões depois – e sempre sem qualquer presença do ministro da Saúde – aquilo que nos move é a melhoria das condições do nosso trabalho. Existe um enorme descontentamento".
Por seu turno, o Bastonário da Ordem dos Médicos fez o retrato da profissão em Portugal. Para além de traçar um cenário em que o trabalho médico está numa situação difícil no Serviço Nacional de Saúde, das zonas do país desertificadas, da emigração médica, da capacidade formativa no limite, Miguel Guimarães declarou: "Ou investimos mais no Serviço Nacional de Saúde ou continuamos na dificuldade do acesso aos cuidados de saúde. Há uma excessiva pressão para produzir.". O Bastonário recordou ainda o Estudo Burnout na nível nacional, onde se revela que 60 por cento dos médicos tem pelo menos um dos indicadores de burnout em nível elevado, "…. o que significa que estes médicos nem deveriam estar a trabalhar". Miguel Guimarães revelou que brevemente iria convidar responsáveis da tutela para para "passar um dia no hospital, o dia no Centro de Saúde, para perceberem, por exemplo, o que acontece a um médico e a doente quando os programas informáticos falham". O bastonário lembrou ainda, citando algumas das muitas dificuldades, que é necessário reduzir o número de utentes para cada médico de família e ter em conta nas unidades ponderadas da lista de utentes o facto de existir utentes com mais de 80 anos. Outro tea abordado pelo Bastonário prende-se com o envelhecimento da classe médica.
Muitos dos presentes nesta sessão de esclarecimento interpelaram os colegas de mesa sobre inúmeros temas, designadamente sobre a contratação, identificação de serviços carenciados, a importância das carreiras médicas, a relação médico-doente.

Entretanto, no dia seguinte a esta reunião, a Ordem dos Médicos emitiu um comunicado sobre a greve. 

 

 

 

 

 

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