“Precisamos de planeamento”, assume Bastonário da Ordem dos Médicos no 19º Congresso Nacional de Medicina / 10º Congresso Nacional do Médico Interno

“Precisamos de planeamento”, assume Bastonário da Ordem dos Médicos no 19º Congresso Nacional de Medicina / 10º Congresso Nacional do Médico Interno

Decorreu durante três dias o 19º no 19º Congresso Nacional de Medicina19º Congresso Nacional de Medicina / 10º Congresso Nacional do Médico Interno, que se realizou em Coimbra, nos dias 3,4 e 5 de novembro.
"Aquilo que precisamos é planeamento e também é preciso adaptar os critérios da formação médica – quer pré quer pós graduada – às necessidades atuais", declarou o presidente do Conselho Nacional da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, no primeiro dia do Congresso Nacional de Medicina / 10º Congresso Nacional do Médico Interno.
Este evento, assumiu José Manuel Silva, é "espaço de encontro entre os profissionais das várias especialidades médicas" de forma a "reforçar a importância da formação contínua". Para o Bastonário da Ordem dos Médicos "a formação médica está intimamente relacionada com as saídas profissionais" embora sustente que a Ordem dos Médicos se preocupa, antes de mais, "com a qualidade da formação e com o exercício da medicina em Portugal". Deixou, aliás, uma nota para o futuro: Há que dar mais atenção ao facto do médico ser também um especialista de relações humanas. Temos de fazer um esforço no sentido de adaptar os curricula dos cursos de medicina e também os das especialidades– para dar valorizar a dimensão humana e preocupar-nos com a dimensão holística da medicina para potenciar a nossa dimensão placebo".
José Manuel Silva aplaudiu a Secção Regional do Centro pela escolha do tema do congresso.
Sem descurar e dar testemunho da "excelente relação de diálogo com o Ministério da Saúde (MS), com reuniões regulares que permitem ir ao encontro do interesse público e tem dado bons frutos – uma diferença muito vincada em relação ao passado muito próximo – diálogo que se traduziu, por exemplo, na Lei de Bases da Saúde", José Manuel Silva apontou as críticas para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior que, ao invés do MS, não mostra idêntico abertura para o diálogo, e á discussão de temas centrais. "Formar médicos para exportar é um erro", considerou o Bastonário da OM. "Não fazer qualquer planeamento não é uma postura digna do governo".
Mais de 400 médicos estiveram na sub unidade 3 da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra para debater as principais questões e premissas da "Formação Médica – Crescemos juntos no saber e na prática", o lema genérico deste congresso nacional.

Na cerimónia de abertura, o presidente Executivo do congresso, Carlos Cortes, começou por agradecer toda a colaboração da faculdade de Medicina na organização deste evento e a presença de todos os representantes do Ministério da Saúde, Administração Regional de Saúde, Câmara Municipal de Coimbra e de outras ordens profissionais. Perante o Bastonário, e presidente do Congresso, José Manuel Silva, o presidente da Secção Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Jaime Mendes, e a representante da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, Lurdes Gandra, e do Coordenador Nacional do Médico Interno, Edson Oliveira, Carlos Cortes destacou ainda as presença dos ex-bastonários, Prof. Dr. Gentil Martins e Prof. Doutor Germano de Sousa.
Centrando a sua intervenção na escolha do tema para este congresso, Carlos Cortes lembrou que "saber ensinar e saber aprender" é, em síntese, a génese da medicina. Particularizando, com a atualidade:
"Vivemos tempos conturbados. Estamos a atravessar uma crise global com impacto financeiro e social e uma das áreas mais sensíveis, a saúde, tem sido muito afetada. O acesso à saúde está cada vez mais dificultada". Dificuldades, essas, lembrou, que também se refletem no trabalho dos profissionais de saúde. "Dos 50 mil médicos, perto de 30 mil trabalham no Serviço Nacional de Saúde e desses um terço está num processo de aprendizagem para a sua especialidade". Em tom crítico, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos não deixou de dizer que "o planeamento que tem sido feito é desastroso. Temos hoje muitos mais estudantes de medicina do que capacidade para os poder formar. Há um impacto negativo devido à falta de planeamento dos recursos humanos médicos. No passado, havia escassez, no futuro muitos terão de optar pela emigração". Carlos Cortes salientou, no entanto, que mau grado estas vicissitudes há um denominador comum que assinala como extremamente positivo: "nunca vi ninguém a pedir menos exigência na formação médica". E lançou o desafio, dirigindo-se ao representante do governo, em concreto ao secretário de Estado adjunto e da Saúde: "O Ministério da Saúde tem de fazer uma inversão com o que se tem passado nos últimos anos. Por exemplo, as idas a congressos, o Ministério da Saúde passou essa responsabilidade para a indústria farmacêutica, mas, hoje são os médicos têm de pagar essa formação. Hoje achamos normal que o Estado deixe de apoiar a formação médica".
"Não podemos hipotecar a formação médica", exortou, "ter coragem para investir naquilo que é certo para o futuro". Antes de finalizar a sua intervenção, o presidente da Secção Regional do Centro, não deixou de sublinhar que "a Ordem dos Médicos está verdadeiramente preocupada com a exigência e a qualidade da formação". Por fim, deixou uma saudação a "todos que contribuem para a formação médica".
Ao intervir também na sessão de abertura, o secretário de Estado adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, garantiu que o "o objetivo de continuar a garantir o acesso de todos os cidadãos a serviços de saúde de qualidade, prestados de modo eficiente, só pode ser alcançado com profissionais em quantidade adequada". Em seu entender, é necessário "valorizar o recurso fundamental, sem o qual os serviços de saúde não podem existir", isto é, os profissionais de saúde. Perante os desafios atuais, o governante não deixaria de enfatizar a necessidade de, cada vez mais, ser necessário acompanhar "as crescentes exigências de uma população cada vez mais informada sobre o poder da arte médica". Fernando Araújo recordou o compromisso do atual Governo – um médico de família a cada cidadão – e sublinhou que "entre todos os parceiros, a Ordem dos Médicos foi aquele que mais ajudou na construção de soluções para os problemas". Aliás, a escassos meses de completar mais um mandato na presidência do Conselho Nacional da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva escutou rasgados elogios do representante do Ministério da Saúde, designadamente "pelo seu contributo inquestionável na defesa do papel dos médicos na prestação de cuidados de saúde". Sublinhou Fernando Araújo: "Deixa uma herança que temos de respeitar e que extravasa a própria Ordem dos Médicos".
Na sua intervenção, o secretário de Estado adjunto e da Saúde deixou ainda uma novidade em relação ao Ano Comum: "embora estivesse tudo preparado para o extinguir, ele irá ser revisto".
Por seu turno, o Coordenador Nacional do Médico Interno, Edson Oliveira, considerou que um dos pontos cruciais da Ordem dos Médicos é precisamente a qualidade da formação médica. Na sessão de abertura, Edson Oliveira, lembrou que, neste congresso, serão anunciados os resultados do inquérito nacional de Satisfação com o Internato Médico (feito entre abril e maio e com a participação de 3456 médicos). "Tivemos uma adesão excecional e temos material e informação que vale a pena refletir. Porque, tal como o Dr. Carlos Cortes lembrou, há um dever hipocrático de ensinar e um dever hipocrático de aprender. A qualidade tem sido posta em causa, com os numerus clausi e com a avalanche na formação pós graduada. Não podemos olhar só para números. Nós estamos a formar pessoas para tratar pessoas".

O vice-Reitor da Universidade de Coimbra, Luís Filipe Menezes, assumiu ser "uma honra" para a instituição que representa, receber este evento. "A vossa carreira é para servir, mas nos dias que correm há limites que já forma ultrapassados" reconhecendo que se trata de uma "carreira difícil e extenuante". Aos congressistas deixou o repto para a visita ao Paço Real (Património Mundial da Humanidade), hoje ocupado pela Reitoria da Universidade de Coimbra.
A atuação do grupo de Fado ao Centro culminou esta sessão de abertura do congresso, precisamente no dia em que a Associação Académica de Coimbra completou 129 anos. Pensar o futuro, honrando a tradição coimbrã, património de todos.

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