O excesso de vagas nas faculdades de Medicina são o obstáculo à qualidade de formação e demonstram a falta de planeamento a longo prazo sobre as reais necessidades do País. É desta forma que o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, coloca 'o dedo na ferida' quanto à impossibilidade de médicos poderem escolher uma especialidade, precisamente na sessão inaugural de mais uma edição da Mostra de Especialidades Médicas, a decorrer na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, de 9 a 11 de maio.
Carlos Cortes lembrou, aliás, que já em 2015 o número de vagas já foi superior à capacidade formativa, tendo ficado de fora 114 candidatos. Este ano, o número é ainda maior estimando-se que entre 500 a 500 possam ficar de fora, adiantando que 1651 é o número mais atualizado de capacidades formativas.
"Espero que o processo, este ano, decorra com normalidade, para que todos tenham tempo de fazer uma escolha consciente", disse. "Infelizmente, isso não aconteceu o ano passado. O ano passado o mapa de vagas foi publicado [pela Administração Central do Sistema de Saúde – ACSS] e no próprio dia era iniciada a escolha. Já alertámos a ACSS para não se verificar esse caos. Deve haver o respeito por esta escolha, é importante dar um espaço temporal aos médicos para que possam fazer uma escolha consciente. É uma escolha profissional única na vida de um médico", disse aos jornalistas à margem da sessão.
A Mostra de Especialidades Médicas (mostrEM) é organizada pelo Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI) – Ordem dos Médicos em colaboração com os Conselhos Regionais Norte, Centro e Sul da Ordem dos Médicos e tem como objetivo principal auxiliar os jovens médicos internos no processo de escolha de especialidade (formação específica).
Na intervenção na sessão de abertura, Carlos Cortes fez o enquadramento sobre as principais questões do Internato Médico, elogiando, desde logo, a organização deste evento: o Conselho Nacional do Médico Interno. Depois de aludir aos diplomas que regem o Internato, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos sublinhou o facto do ensino pós graduado da formação médica ser um ensino complexo porque tem muitos intervenientes, um dos quais a Ordem dos Médicos que tem como função auditar e fiscalizar se os serviços têm condições para formar especialistas.
Nesta sessão, também o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Duarte Nuno Vieira, teceu críticas ao excesso de alunos dando até, como exemplo, o facto da própria faculdade nar estar dimensionada para receber tantos estudantes. "Temos salas para 150 alunos e recebemos quase 300", aludiu, sublinhando que o excesso de estudantes poder colocar em causa "a qualidade do processo pedagógico" e até levantar "problemas éticos" nas aulas práticas.
Na abertura oficial do MostrEM 2016, Ana Luísa Catarino, médica interna de Oncologia Médica no Instituto Português de Oncologia – Coimbra / Membro do Conselho Nacional do Médico Interno, fez votos para que esta iniciativa seja produtiva para os médicos que aderiram a este evento.