“Apostar na formação hoje é apostar nos médicos de amanhã”, sublinhou o presidente da Secção Regional do Centro, Carlos Cortes. “Ser médico não é só ter domínio técnico da profissão. Ser médico significa explorar áreas muito diferentes que também inclui o debate sobre as questões éticas, sobre a humanização, sobre a exigência. Devemos ter uma formação de qualidade para permitir que, amanhã, Portugal possa ter médicos especialistas de qualidade. Pela primeira vez, desde há muitas décadas, vamos ter médicos indiferenciados em Portugal por não terem acesso a uma especialidade”, alertou, mais uma vez, Carlos Cortes que endereçou a responsabilidade desta situação para os ministérios da Educação e da Saúde. O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos reiterou a preocupação face a esta realidade e exortou os estudantes de Medicina a defender a qualidade e a excelência da profissão para que, dessa forma, concomitantemente, possam defender os seus doentes. “Os doentes merecem uma medicina de qualidade, estamos ao nível dos países mais desenvolvidos do mundo”, sublinhou Carlos Cortes, “sabemos que há problemas que devem ser melhorados”. Exortou: “Façam ouvir a vossa voz também à Ordem dos Médicos”.
Durante dois dias, mais de 400 estudantes participaram neste congresso promovido pela Associação Nacional de Estudantes de Medicina. “Medicina é mais que ciência”, para além das sessões plenárias, incluiu mais de 30 workshops.
O Congresso Nacional de Estudantes de Medicina, que decorreu na cidade de Coimbra, ficou ainda marcado pela divulgação do Estudo sobre as Condições Pedagógicas das Escolas Médicas Portuguesas, segundo o qual, os doentes que recorrem a hospitais afiliados de sete escolas médicas existentes no território continental (em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Covilhã) “podem encontrar, juntamente com o seu médico, em média, cerca de oito estudantes”. De acordo com o estudo, em algumas disciplinas, de algumas escolas, cada médico tutor chega a ter mais de 25 alunos. Nas conclusões do estudo lê-se que o ensino em meio clínico “apresenta particular descontentamento por parte dos estudantes” e que um rácio estudante-tutor elevado “encontra-se diretamente relacionado com a insatisfação estudantil para com o ensino em meio clínico”. O melhor rácio médio estudante-tutor, envolvendo alunos do 3.º, 4.º e 5.º anos, encontra-se na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (2,55 estudantes por tutor) e o pior na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), com 18,5, em média. Na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (Covilhã) o rácio é de 3,13 estudantes por tutor, a Escola de Ciências da Saúde da Universidade de Minho (Braga) apresenta 3,79, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto 4,62, a sua congénere da Universidade de Lisboa 7,39 e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (Porto) regista 9,15. Por unidade curricular, a especialidade de Ortopedia na FMUC tem 34,9 estudantes por tutor e a de Cirurgia Geral 25,7, os valores mais elevados registados no total das sete escolas médicas. No extremo oposto, os melhores rácios por unidade curricular registam-se na Universidade Nova de Lisboa, onde em Medicina Geral e Familiar cada tutor acompanha um estudante (rácio de 1, enquanto em Coimbra ultrapassa os 20), seguindo-se Dermatologia, Nefrologia e Reumatologia com um rácio de 1,5.
Nos últimos 20 anos, o número de diplomados em Medicina aumentou quase 400%. O estudo, divulgado no último dia do Congresso Nacional de Estudantes de Medicina, envolveu quase 4000 questionários a estudantes e teve ainda em conta dados fornecidos pelos órgãos diretivos das escolas médicas em relação ao período 2011-2014.