A delegação distrital de Coimbra da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) organizou para os dias 16 e 17 de outubro as XXIX Jornadas sob o lema "Cuidar para Capacitar", na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra – Pólo B. Na sessão de abertura, Miguel Pereira, falando em nome da APMGF, sublinhou: "Mais uma vez a delegação distrital de Coimbra da APMGF está de parabéns ao organizar estas jornadas de Coimbra, que como se pode observar pela quantidade e diversidade de trabalhos apresentam uma abrangência nacional". Na sua intervenção, Miguel Pereira relembrou duas firmes posições da ddireção nacional da APMGF face ao momento atual: "Não concordamos com a atribuição do grau de especialista a clínicos gerais que trabalham em Centros de Saúde se não frequentarem o mesmo ciclo de formação específica que todos os internos de Medicina Geral e Familiar, assim como consideramos também que uma dimensão da lista de utentes fixada em 1900 utentes é um valor limite, excessivo, em que a qualidade dos cuidados de saúde prestados e as boas práticas são postas em causa, não sendo possível cumprir as normas, as orientações da Direção-Geral da Saúde, nem garantir a dignidade do ato médico". Na sua opinião, urge fomentar a "continuidade do processo da reforma dos Cuidados de Saúde Primários".
Nesta cerimónia inaugural das jornadas presididas por Goreti Fonseca, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, depois de destacar o dinamismo da APMGF, alertou para um eventual retrocesso na área da Saúde em Portugal perante o perigo de passar a existirem médicos indiferenciados. "Provavelmente, tal poderá ter um impacto negativo nos cuidados de saúde primários", advertiu Carlos Cortes.
O representante da Ordem dos Médicos lembrou o facto de "hoje, termos mais licenciados em Medicina do que capacidade para dar a esses médicos uma especialidade". Citando os números mais atualizados, Carlos Cortes lembrou que este ano existem "à volta de 1900 licenciados em Medicina" [tendo também em conta os licenciados nas faculdades de medicina no estrangeiro] e temos 1500 capacidades formativas. Há aqui um diferencial…". Citando dados da ACSS, Carlos Cortes deu conta de que existem atualmente 1720 vagas de especialidade. "Os restantes", alertou, "serão médicos indiferenciados". O problema, prosseguiu na sua interveção, "é que esta ‘bolsa' de médicos indiferenciados pode ir engrossando todos os anos, o que, obviamente para qualquer Ministério da Saúde que não esteja preocupado com a qualidade da prestação dos cuidados de saúde, vai ser um ‘bolsa' muito apetecível para tapar buracos". Asseverou, no entanto: "Queremos médicos de família com programa de formação exigente".
Esta sessão de abertura contou a presença e intervenções da Vice-presidente da Camara Municipal de Coimbra, Rosa Reis Marques, e da Vice-presidente da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Aida Mendes. Ambas destacaram o papel fundamental dos cuidados de saúde primários na prossecução da excelência da Saúde em Portugal.