mostrEM 2015: Carlos Cortes contra Medicina indiferenciada

mostrEM 2015: Carlos Cortes contra Medicina indiferenciada

Esperança e exigência foram as tónicas da intervenção do presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), Carlos Cortes, na sessão de abertura do mostrEM 2015. Na sua intervenção, para além de dar destaque à formação médica como garante e pilar de uma Medicina de qualidade não deixou de mencionar e alertar para o risco de médicos indiferenciados em virtude da discrepância entre o número de candidatos e as vagas para a especialidade. O presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, começou desde logo o seu discurso por elogiar o trabalho, o dinamismo e a entrega do Conselho Nacional do Médico Interno. "Vocês fazem de forma exemplar a ponte entre os Internos e a Ordem dos Médicos", aludiu. Carlos Cortes estendeu também o agradecimento aos órgãos diretivos da Faculdade de Medicina, ali representada pelo professor Américo Figueiredo, pela "colaboração estreita com a Ordem dos Médicos", esperando consolidar as sinergias "nesta área da formação médica".
Depois das palavras com nota positiva e de esperança, o presidente da SRCOM trouxe à ribalta da sua intervenção um olhar exigente, de alerta e de luta. "No vosso percurso como internos de formação específica e depois como médicos especialistas vão ter de lutar muitas vezes contra as insuficiências, as deficiências do sistema e contra quem pouco se preocupa com estas questões da qualidade da Medicina e da qualidade da formação". E deixou, desde logo, o alerta: "Os médicos indiferenciados são uma realidade que começará a existir uma vez que, por exemplo este ano, existem muitos mais candidatos do que vagas de especialidade". E para suportar este aviso, Carlos Cortes citou números da Administração Central do Sistema de Saúde: "Neste momento, existem 1720 candidatos para a formação específica e a Ordem dos Médicos conseguiu em termos de capacidades formativas 1450 (número que a OM deteta nos serviços para o primeiro ano de formação específica, mas ainda são números provisórios porque estamos ainda a receber informação dos Colégios). É uma diferença importante: se se candidatarem todos, trezentos médicos ficarão de fora".
O presidente da SRCOM, recorde-se, é acérrimo defensor de que todos os médicos tenham uma especialidade. Capacidade de formação, essa, que tem enfrentado sérios obstáculos perante as mega fusões de hospitais e centros de saúde. Por outro lado, Carlos Cortes, também coordenador do Conselho Nacional da Pós-Graduação (órgão consultivo da OM), recordou que "nos últimos 10 anos o Ministério da Saúde desperdiçou 2253 vagas". Isso mesmo demonstrou analisando um gráfico onde se estabelece a comparação entre o número de capacidades formativas que a OM colocou à disposição do Ministério da Saúde e o número de vagas que a tutela colocou à disposição dos médicos. Face às discrepâncias teceu duras críticas à tutela. "Verificamos que, de repente, o Ministério da Saúde acordou em 2013, sobretudo em determinadas especialidades tentando, nessa altura, aproveitar o máximo das capacidades formativas". Nesta intervenção, que decorreu no auditório principal da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Carlos Cortes estendeu as críticas, também, ao "aumento desproporcionado e selvagem de 'numerus clausus' que não correspondem àquilo que o país depois pode oferecer em termos de formação do Internato da especialidade".
Coube a Ricardo Marques, coordenador para a zona Centro do Conselho Nacional do Médico Interno, abrir a edição 2015 desta mostra de especialidades médicas (mostrEM) da zona Centro, organizada em colaboração com a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos. "A escolha que se aproxima não é de todo fácil , o mostrEM reverte-se de uma utilidade significativa neste contexto, a realidade das especialidades muitas vezes não se aproxima da ideia que trazemos da faculdade, daí este momento ser tão importante", disse Ricardo Marques. A terminar a sua intervenção nesta sessão de abertura, Ricardo Marques enfatizou: "o Internato de formação específica é a garantia de qualidade do Serviço Nacional de Saúde e um dos seus pilares que defendemos, por isso a importância da escolha da especialidade num momento em que se esgota a capacidade formativa instalada criando uma Medicina indiferenciada, mais barata e onde a qualidade é preterida".
Em nome da direção da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, o professor Américo Figueiredo, que é também membro do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, lembrou aos jovens médicos que continuarão a existir "interseções" com a faculdade, quer através da "figura do interno doutorando" quer através da que foi criada recentemente através do "doutoramento em investigação clínica", quer, ainda, através do programa de Doutoramento em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
O mostrEM é um evento Nacional, organizado pelo CNMI em conjunto com as Secções Regionais da OM. Em Coimbra, o evento decorre de 15, 16 e 17 de outubro e, em Lisboa e no Porto, de 19 a 21 de Outubro.

 

 

 

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