Está a ter dimensões graves, provoca consequências nefastas na saúde e é um fator da redução da qualidade do desempenho profissional. Falamos do síndrome de burnout nos profissionais de saúde, matéria que é alvo de um estudo inédito a nível nacional e liderado por um grupo de trabalho para estudo, prevenção e intervenção da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM).
Em Aveiro – e perante uma vasta assistência no Salão Nobre do Hospital Infante D. Pedro – Centro Hospitalar do Baixo Vouga, o presidente da SRCOM, Carlos Cortes, destacou desde logo a enorme participação de médicos nesta sessão. Contextualizando esta inciativa da SRCOM, Carlos Cortes referiu que, desde a criação do Gabinete de Apoio ao Médico, se percebeu a premência deste tema e das necessidades dos médicos, tendo, então, desencadeado três programas de apoio. “Estes problemas não passam ao lado da Ordem dos Médicos”, acentuou. Um dos programas é direcionado para o síndrome de exaustão dos médicos; outro é da violência contra os profissionais de saúde; terceiro programa está relacionado com a mediação de conflitos. “Em relação ao burnout não queremos só fazer o levantamento da situação, através do questionário”, explicou Carlos Cortes, justificando a ida a todos os hospitais e centros de saúde da região Centro para debater esta matéria. Refira-se que os médicos estão a receber um inquérito com o objetivo de caracterizar a população médica e os estudantes das faculdades de medicina (UC e UBI) no sentido de perceber qual a incidência de burnout, depressão, ansiedade e stress; compreender as áreas de medicina em que o burnout é mais frequente; correlacionar as três dimensões do burnout com fatores sócio-demográficos e laborais/organizacionais. Objetivo: prevenção e apoio. “Será um contributo muito importante” para melhor perceber este síndrome, afirmou Teresa Lapa (Anestesiologista, Serviço de Anestesiologia do CHUC, aluna de Doutoramento da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior) e que integra este grupo de trabalho. Por seu turno, Fernanda Duarte (Psicóloga, Consulta de Burnout, CRI de Psiquiatria e Saúde Mental do CHUC), também membro daquele grupo de trabalho da Ordem dos Médicos do Centro, elencou um conjunto de fatores que ajudam a caracterizar este problema de saúde pública. “Os níveis de stress profissional têm aumentado de um forma muito significativa em todos os profissionais de saúde e isto acaba por ter custos quer a nível pessoal, quer custos diretos e indiretos para as organizações, custos também a saúde para os nossos utentes pois há estudos que demonstram que há uma relação muito direta entre o grau de satisfação dos profissionais e a menor qualidade dos serviços prestados”, disse a psicóloga.
Nas suas intervenções, Fernanda Duarte e Teresa Lapa deram até algumas sugestões para que os profissionais possam enfrentar alguns obstáculos no dia-a-dia, no sentido de se suportar melhor as dificuldades. Aliás, este projeto da SRCOM visa, precisamente, contribuir para o bem-estar dos profissionais. Coube a José Augusto Simões (Medicina Geral e Familiar, USF Marquês de Marialva/Cantanhede, integra o Gabinete de Apoio ao Médico da SRCOM) falar sobre “Violência contra os profissionais de Saúde em contexto laboral e Mediação de Conflitos”. No início desta sessão, Aurélio Rodrigues, presidente do Conselho de Administração (que teve de se ausentar pouco depois das boas-vindas) lembrou que há muitos anos se mobiliza em torno da defesa dos profissionais e da sua segurança, designadamente para os que estão nos serviços de urgência.
Em síntese, manter médicos saudáveis e motivados nos tratamento dos doentes é crucial para o futuro da saúde dos portugueses.