Tributo à primeira cirurgiã portuguesa

Tributo à primeira cirurgiã portuguesa

"Uma Mulher na Medicina do Homens" – eis a exposição dedicada a Carolina Beatriz Ângelo, inaugurada no âmbito do Dia Internacional da Mulher, no Clube Médico (Coimbra). Carolina, médica, cirurgiã, sufragista, conspiradora, republicana, feminista, ativista, maçona, esposa, mãe. Três palestrantes deram voz à incomensurável herança de quem apenas viveu 33 anos. Carlos Cortes, presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, enalteceu as mulheres pioneiras em Portugal na vocação da Medicina. "Hoje, o mundo da Medicina é maioritariamente das mulheres", disse.
Na sessão de inauguração desta exposição, Maria José Franca (bisneta de Maria Veleda, feminista republicana) reportou o papel relevante que a sua bisavó teve na República bem como antes da queda da Monarquia. "Maria Veleda não foi uma mulher vulgar. Assim como Carolina Beatriz Ângelo.", disse a conferencista. Ao traçar o perfil e percurso de Maria Veleda, lembrou como ela foi corajosa ao criar duas crianças sem estar casada (uma adotada, outra biológica) e como se envolveu em acontecimentos sociais, políticos e educativos numa época em que a causa pública era ainda um reduto masculino. "Promoveu a emancipação feminina, liderou o movimento associativo, foi pioneira em campanhas públicas de proteção a crianças de rua. Ela acreditava que era possível criar um mundo melhor, esteve na base do Movimento Republicano das Mulheres Portuguesas e bateu-se pela educação feminina", realçou Maria José Franca. "Ousou ser pioneira de muitas instituições e publicou muitos artigos em vários jornais do País". Mas não só, também escreveu poesia. "Estamos para publicar os sonetos dela", anunciou Maria José Franca antes de ler um poema da bisavó.
Dulce Helena Borges – Conservadora do Museu da Guarda que organizou em 2010 uma exposição dedicada a Carolina Beatriz Ângelo (cujo catálogo foi premiado a nível nacional e foi um documento muito importante para a elaboração desta exposição) – felicitou a iniciativa da SRCOM pelo tributo à cirurgiã. "Sinto-me orgulhosa como cidadã da Guarda, como descendente um pouco desta origem de Carolina Beatriz Ângelo – o avô e pai de Beatriz eram proprietários de uma tipografia que se chamava-se Distrito da Guarda" que chegou a ser dos ascendentes de Dulce Helena Borges. A conferencista deu conta que quando pensou em fazer uma exposição sobre a cirurgiã que nasceu na Guarda, apenas tinha uma objeto: Recibo de uma consulta de Carolina Beatriz Ângelo. "É a única herança que a família tem". A conservadora não desanimou pois o património imaterial de Carolina Beatriz Ângelo é vasto quer pela luta cívica quer profissional. "Mulher moderna, audaz, com coragem e sabedoria e que intuiu que o feminismo não poderia ter pressa", acentuou.
Mulher pioneira a votar em Portugal "Carolina Beatriz Ângelo foi uma das vozes feministas mais marcantes do início do século XX. (…) Ela nasceu no seio de uma família participante na elite social que protagonizou a mudança de regime e de mentalidades", disse a conferencista, lembrando que Carolina deixou a Guarda com 17 anos. Carolina cursou medicina, tornou-se uma médica de excelência e uma militante cívica. A conferencista citou, no final da sua intervenção, excertos das cartas de Carolina escritas à amiga Ana de Castro Osório.
Entretanto, a jovem médica Ana Oliveira (Interna do 4º ano de Cirurgia Geral) deu testemunho emotivo da sua vocação. "Faço parte de uma geração que vive muito o presente e o futuro e que comete um erro grave de não saber o que se passou para trás", aludiu Ana Oliveira. Depois de explicar a sua opção profissional, reconheceu: "Carolina teve de lutar mas a minha geração não dá valor ao passado, quando eu escolhi cirurgia nem sequer pensei que alguém um dia teve dificuldade em escolher cirurgia".
Ao terminar esta sessão no âmbito também do Dia Internacional da Mulher – ainda antes do momento musical interpretado por Laura Mar (estudante de Medicina em Coimbra) – Marta Brinca (especialista em Ginecologia/Obstetrícia) declamou um "escrito de homenagem" às mulheres. Maria José Franca declamou dois poemas de Rosa Lobato de Faria.

Carolina Beatriz Ângelo: Trinta e três anos de vida, um marco na História de Portugal. A exposição organizada pela cirurgiã Dulce Diogo está patente, no Clube Médico, até 3 de maio.

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