Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) recusa atribuição de competências e responsabilidades médicas a outros profissionais no âmbito da Triagem de Manchester nos serviços de urgência.
No meio da crise vivida nos Serviços de Urgência, o Ministério da Saúde propõe, com precipitação e sem fundamento técnico, que sejam prescritos exames de diagnóstico e medicação no ato da triagem dos doentes urgentes antes que estes sejam sequer consultados por um médico.
Esta é mais uma proposta irresponsável do Ministério que, pretendendo camuflar novamente um problema, poderá vir a criar outros com impacto mais grave para a saúde dos portugueses e agudizar o caos vivido nos Serviços de Urgência hospitalares.
A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) rejeita que competências e responsabilidades que são dos médicos possam ser transferidas para outros profissionais, sem a mesma preparação, formação e grau de diferenciação. O Ministério da Saúde propõe que os enfermeiros que fazem a triagem possam medicar e pedir exames complementares de diagnóstico sem que o médico tenha definido uma estratégia de diagnóstico. Respeitamos os conteúdos funcionais de cada profissão e reconhecemos a importância do desempenho de cada profissional no contexto das unidades de saúde. Porém, entendemos que esta solução pode constituir um risco para os doentes, já que, por exemplo, alguns fármacos podem impedir que seja estabelecido um diagnóstico correto. Por outro lado, o tempo despendido para estas tarefas irá atrasar, ainda mais, o encaminhamento do doente numa triagem que deveria ser célere e eficiente. A solução nunca poderá passar por transferência de competências mas, sim, por reforçar a colaboração interprofissional e fortalecer as equipas multidisciplinares na urgência.
O Ministério da Saúde recusa reconhecer que o caos vivido nas urgências é sobretudo causado por falta de recursos humanos, absoluto desinvestimento nos cuidados de saúde primários e unidades capazes de receber doentes não emergentes e dotação de mais camas de internamento. Ao invés, o Ministério da Saúde continua a direcionar todos os utentes para os serviços de urgência hospitalares quando a maioria deveria ser atendida em unidades de cuidados de saúde primários capazes de dar essa resposta.
A SRCOM lamenta que o Ministério da Saúde se preocupe mais com anúncios demagógicos e inconsequentes do que com a apresentação de soluções consistentes que resolvam os problemas, nomeadamente os dos serviços de urgência que se tem agudizado nos últimos tempos.
Coimbra – 14 janeiro 2015
Conselho Distrital do Centro da Ordem dos Médicos