SNS deverá ser “atraente e competitivo”, defende Manuel Teixeira Veríssimo

SNS deverá ser “atraente e competitivo”, defende Manuel Teixeira Veríssimo

No Dia do Médico, Coimbra foi o destino de alegria, confraternização e celebração. A SRCOM, numa cerimónia de homenagem plena de emoção, destacou o exemplo, a dedicação e a entrega à Medicina de centenas de colegas.

Na antiga Igreja do Colégio da Trindade, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos levou a cabo a homenagem aos colegas com 50 e 25 anos de inscrição na Ordem dos Médicos, cerimónia que incluiu a extraordinária interpretação do Quarteto de Cordas da Orquestra Clássica do Centro, com uma participação especial: É que, Pedro Carvalho e Vítor Sousa (no violino), David Lloyd (na viola d´arco) e Nuno Almeida (no violoncelo) tiveram a magnífica companhia do colega Rui Pato, que foi viola de José Afonso e de Adriano Correia de Oliveira.

Logo a seguir a este momento musical, coube ao anfitrião, Manuel Teixeira Veríssimo, dar início à comemoração do Dia do Médico, realçando desde logo a importância destes médicos: “O Serviço Nacional de Saúde foi construído com muito gosto, dedicação e competência dos médicos, por isso a justa homenagem hoje prestada a estas duas gerações, deverá ser extensiva a todos os médicos, pois foi com eles que o SNS atingiu elevada qualidade reconhecida a nível nacional e internacional”. Na sua intervenção, o presidente da SRCOM destacou: “A esta geração com 50 anos de carreira devemos a construção e consolidação do SNS, seguramente a consequência da revolução de abril que, de um modo mais global e efetivo, se fez sentir na população. Foi esta geração que levou médico até aos locais mais recônditos do País, onde, através do serviço médico à periferia, pela primeira vez alguns viram um médico e puderam ser tratados segundo a Leges Artis.  Mas também aos colegas que agora fazem 25 anos de carreira profissional devemos estar agradecidos, pois têm sido a geração que, nas últimas duas décadas, como especialistas mais jovens, têm vindo a suportar um SNS em franca decadência para a qual não têm sido encontrados antídotos”.

E eis chegados aos problemas que estamos a enfrentar, Manuel Teixeira Veríssimo lamentou que “com o decorrer do tempo, [o SNS] não se tenha adaptado às exigências científicas, sociais e organizacionais que uma sociedade moderna exige”. De pronto elenca as circunstâncias difíceis e os maus resultados da falta de investimento no sistema público de saúde: “Médicos desmotivados por falta de carreira, más condições de trabalho e deficiente remuneração; Médicos que optam por trabalhar no setor privado ou emigrar; Falta de médicos no SNS, embora não no País; Doentes sem médico de família, tempo de espera para algumas consultas e cirurgias enormes, serviços  de urgência sobrecarregados.  Em suma, deficitários cuidados de saúde prestados à população.”.

Na sua intervenção, e para que o SNS se possa tornar “atraente e competitivo”, defendeu “uma reforma da sua organização”, enumerando algumas das medidas que considera fundamentais para este desiderato, designadamente que passe “pela revalorização das carreiras médicas; pela melhoria das condições de trabalho, com estímulo à formação profissional e inovação; pela valorização da liderança médica e pela melhoria das condições remuneratórias.”. Acredita, até, que “em igualdade de circunstâncias os jovens médicos portugueses preferirão manter-se no SNS”.

Estudantes agradecem legado dos homenageados

Depois desta importante página da cerimónia do Dia do Médico, foi a vez de escutar os mais novos com as intervenções da presidente eleita do Núcleo de Estudantes de Medicina da Associação Académica de Coimbra (NEM/AAC), Cármen Oliveira; da Presidente do Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade da Beira Interior (MedUBI) Cátia Batista e, em representação da Direção da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), Maria Loio, atual vice-presidente da ANEM.

“É uma honra estar aqui hoje e poder presenciar um momento tão importante como aqui testemunhamos, a valorização da profissão médica e dos que por ela trabalham todos os dias”. E dirigindo-se aos homenageados, Cármen Oliveira enfatizou: “Obrigada por continuarem a lutar pela qualidade da profissão, da carreira e da formação médica”. Sem desmerecer os motivos de celebração, a jovem estudante considerou também ser necessário “olhar para o futuro e para o presente” referindo a necessidade de combater a “deterioração do SNS” e as “ameaças à carreira médica”. Também Cátia Batista assumiu a “honra e apreço” de estar nesta cerimónia “tão bonita e com significado tão especial”. A seu ver, “a inscrição na Ordem dos Médicos representa um ponto de partida crucial no exercício pleno da profissão médica”, uma vez que “é um símbolo do compromisso assumido com a ética, a excelência e a segurança do doente”, numa espécie de “pacto com a sociedade” e num “compromisso com os princípios fundamentais da Medicina e da dedicação ao bem-estar do paciente”. E considerou que os desafios sentidos há 50 e 25 anos não são os que existem atualmente, pois “a medicina está em constante evolução, com avanços tecnológicos, novos perfis de pacientes e outras demais mudanças”. Os agora homenageados são “um modelo”. “Que possamos juntos construir um futuro promissor para a Medicina honrando o legado daqueles que nos precederam e enfrentando os desafios que o futuro nos reserva”.

Maria Loio, atual vice-presidente da ANEM, ao considerar este dia como uma data muito feliz, vaticinou que a Medicina possa ser “um universo de incertezas mas que nos presenteia com algo muito bonito e fascinante, pois é uma profissão que se baseia naquilo que acredito que seja o mais importante: as pessoas. A medicina está em constante evolução e é assustador o ritmo galopante com o qual não só a inovação tecnológica e as problemáticas que encontramos vão evoluindo. Nós temos que, obviamente, nos adaptar a isso”. Para a jovem, é ainda importante o foco na “singularidade do Ser Médico”. Assumiu perante centenas de pessoas que lotaram aquele espaço incluído no Património Mundial da Unesco: “Para mim, ser médica, eu que ainda sou estudante, é dar muito do nosso tempo a algo que nos faz felizes e que às vezes também pode ser devastador” mas que a “humanização seja aquilo que nos une”.

Bastonário destaca papel dos médicos no desenvolvimento do País

“É a primeira vez que estou numa cerimónia da SRCOM em que eu não sou o presidente”, começou por frisar Carlos Cortes, arrancando largos sorrisos aos presentes, agradecendo desde logo ao atual presidente, Manuel Teixeira Veríssimo, “o magnífico trabalho que tem desenvolvido e, sobretudo, a sua postura de colaboração e de lealdade com a direção nacional”. Intervindo de improviso, o Bastonário da Ordem dos Médicos, um dos homenageados com a medalha que assinala os 25 anos de inscrição, agradeceu também as palavras das jovens estudantes e daquilo que esperam “desta maravilhosa profissão”. Carlos Cortes, nesta intervenção inicial, não deixou de se dirigir aos “mestres, amigos, colegas” que irão receber as medalhas dos 50 anos bem como os colegas que, com ele, perfazem 25 anos de inscrição na OM. “É verdade que os médicos, ao longo da história, tiveram sempre um papel muito importante, quer na prestação dos cuidados de saúde, quer um papel social absolutamente fundamental no desenvolvimento do nosso País”, destacou, elencando momentos marcantes da nossa História, quer na ditadura quando “de forma destemida e muito responsável” publicaram o Relatório das Carreiras Médicas, quer em 1979 na criação do Serviço Nacional de Saúde. “O Dr. António Arnaut reconhecia que tinham sido os médicos a ter tido a ideia e a edificar o SNS”, sublinhou. Carlos Cortes lembrou ainda a importância capital de quem esteve, muitos dos quais ali presentes, no Serviço Médico à Periferia, nas ilhas e no resto do País, “servindo as populações, muitos nunca tinham visto um médico na sua vida”. E acrescentou outro episódio marcante mais recente que também foi referido pelas estudantes de medicina: a pandemia da COVID-19. “Tivemos, novamente, uma prova de coragem, uma prova daquilo que é a Medicina hipocrática”, assumiu. Sobre dificuldades mais recentes, o Bastonário da Ordem dos Médicos aludiu à negociação em volta da Lei-Quadro das Ordens Profissionais, afirmando-se esperançado, entre outros preceitos legais, na publicação do Ato Médico. “Foi-nos prometida pelo atual ministro da Saúde que a Lei do Ato Médico ficaria integrada no novo Estatuto da Ordem dos Médicos”, afirmando ainda que, a seu ver, que este será um passo muito importante no desenvolvimento da Medicina. A finalizar, o Bastonário asseverou que, em qualquer circunstância, “é necessário estarmos sempre atentos, na defesa de uma formação médica de qualidade, na defesa de uma medicina qualificada. Sei muito bem qual o papel da Ordem dos Médicos. Nunca deixarei que as competências próprias – técnicas, formativas e científicas  – possam ser ocultadas e retiradas.”.

Nesta tarde de celebração, o Coro da Ordem dos Médicos do Centro, com direção artística e regência do Maestro Paulo Bernardino, interpretou vários temas do seu repertório. O Maestro esteve também a solo num dos momentos também muito apreciado deste evento comemorativo do Dia do Médico.

Parabéns! Continuam – todos – a ser uma inspiração!

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Ordem dos Médicos