Em nome da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), o seu presidente, Manuel Teixeira Veríssimo, vem manifestar publicamente o mais profundo pesar pelo falecimento do prestigiado médico Professor Doutor José Luís Pio da Costa Abreu, uma referência na Psiquiatria e no ensino médico, uma das figuras mais notáveis da Psiquiatria portuguesa do último quartel do século XX até ao presente.
A sua dedicação à Ordem dos Médicos perdurará, também, na nossa memória: Foi membro do Colégio da Especialidade de Psiquiatria da Ordem dos Médicos (de 2006 a 2020, tendo sido coordenador do Centro no triénio de 2012 a 2014). Foi Presidente do Conselho Sub-Regional de Coimbra da Ordem dos Médicos (triénio 1984-1986, 2014-2016, 2017-2019, 2020-2022). Por ocasião do 25º Congresso Nacional da Ordem dos Médicos, a 14 de novembro de 2022, o insigne Professor foi distinguido com a medalha de mérito da Ordem dos Médicos.
José Luís Pio da Costa Abreu nasceu em Santarém em 1944. Doutorado em 1984 pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra com uma tese ligada à Psiquiatria Biológica, fez a Agregação em 1996 com uma Lição sobre perturbações de ansiedade. Concluiu a licenciatura em 1969 e realizou estágio e Internato Geral em enfermarias de Medicina e Cirurgia dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), interrompidos por incorporação militar compulsiva. Concluiu o internato da Especialidade na Clínica Psiquiátrica dos HUC em Janeiro de 1976. Foi Chefe de Serviço dos HUC desde 1994, foi Coordenador e responsável pela Enfermaria de Mulheres (pavilhão de Celas) do Serviço de Psiquiatria dos HUC desde Outubro de 1986 até Junho 2013. Teve destacada carreira docente na FMUC, nas carreiras de Psiquiatria e de Introdução à Clínica. Foi membro do Colégio da Especialidade de Psiquiatria da Ordem dos Médicos (de 2006 a 2020, tendo sido coordenador do Centro no triénio de 2012 a 2014).
José Luis Pio Abreu desenvolveu e orientou investigação no âmbito da Psiquiatria biológica e psicoterapias, ao longo de mais de quatro décadas. Defendia, de forma muito assertiva, a necessidade de olhar para o doente de forma global. Foi presidente da Sociedade Portuguesa de Psicodrama e era, desde 2014, membro do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa.
Além da sua atividade política, que começou na Revolta Estudantil de Coimbra, em 1969, dedicou-se à escrita, tendo publicado vários livros académicos e outros destinados ao público em geral, quer em Portugal como noutros países (Brasil, Itália, Espanha), além de inúmeros artigos em jornais. Citamos algumas obras: ‘O Bailado da Alma’ apresentada, no dia 30 de março 2015 na Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, em Coimbra. Esta obra fora lançada em setembro de 2014; “A Queda dos Machos” (2016, Dom Quixote), “Como tornar-se Doente Mental” (21ª edição, 2013. Lisboa: Dom Quixote), “Quem nos Faz como Somos: Genes, Signos e Identidade” (4ª edição. Lisboa: Dom Quixote), “Estranho Quotidiano” (Lisboa: Dom Quixote, 2009), “A Pequena História da Psiquiatria”, em 2021. Pedagogo e comunicador nato, Pio Abreu escreveu também o livro “Comunicação e Medicina”, impresso na Gráfica de Coimbra em 1998.
Por ocasião das ‘bodas de ouro’ do curso médico 1962/1968 em cerimónia realizada na Sala Miguel Torga da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Pio Abreu fez uma resenha do tempo em que foram estudantes, abordando as implicações sociais e políticas daquela época, lembrando as vicissitudes em que o curso foi partido em dois em virtude das perseguições políticas de que eram alvo os colegas (uns eram detidos e outros iam para as guerras). “Eu estudava nas férias. Naquele tempo, a prioridade era derrubar o regime”, recordou. O médico psiquiatra e escritor lembrou ainda como “no meio desse ambiente marcadamente hostil foi possível negociar e colocar no terreno as carreiras médicas”.
Pio Abreu deixa um legado profundo na Medicina Portuguesa e na Psiquiatria em particular. São reconhecidas as suas qualidades de médico e de Ser humano excecional, muito atento aos seus colegas e aos doentes.
A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos endereça sentidas condolências à família, colegas e amigos.
Pelo Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos,
O Presidente,
Prof. Doutor Manuel Teixeira Veríssimo
Coimbra, 18 junho 2025
