A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), em colaboração com o Conselho Nacional do Médico Interno, organizou e promoveu o VI Encontro do Internato Médico da Zona Centro, nos dias 11 e 12 de outubro (sexta e sábado). A sessão de abertura com o mote “Os Internos são rentáveis ao SNS?” contou com as intervenções do Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, do presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Manuel Teixeira Veríssimo, do Professor of Health Economics / Nova School of Business and Economics, Universidade Nova de Lisboa, Pedro Pita Barros, e do Membro da Direção do Conselho Nacional do Médico Interno, José Rodrigues.
Na sua primeira intervenção, coube ao presidente da Comissão Organizadora, Henrique Cabral, destacar o facto do programa ter sido “delineado de modo a abarcar os aspetos nucleares no que à formação médica diz respeito. (…)”. ” A formação médica é ferramenta essencial para a sustentabilidade do sistema no que ao número de médicos diz respeito mas também ao facto de prestarem cuidados assistenciais durante o período de formação, assegurando 1/3 da força de trabalho médico do Serviço Nacional de Saúde”, acentuou o neurocirurgião, dando conta dos temas a debater neste evento, designadamente, “Porque ficam por escolher vagas do internato e especialidade? Pros e contras do SNS” e “Internato, e depois? Que opções existem além da carreira clássica?”, sendo naturalmente abordados outros assuntos, como por exemplo, os problemas que decorrem da extinção das ARS e a consequente disrupção da estrutura do internato médico, bem como sobre a atual realidade que decorre da criação das ULS.
Estando na ilha da Madeira no encontro do Conselho Europeu das Ordens dos Médicos, o bastonário da Ordem dos Médicos participou por via remota, salientando logo a abrir a sua intervenção que “a formação médica é uma das matérias mais relevantes para a Ordem dos Médicos, talvez a joia da coroa”, tendo como primeira preocupação “a qualidade da formação médica em todo em todo o percurso do médico, fundamentalmente no Internato Médico”. Carlos Cortes lembrou, entretanto, como esta matéria é dissonante na sociedade portuguesa e que tem sido, aliás, tema de campanhas eleitorais, com vozes a pretenderem que os médicos recém-especialistas fiquem obrigatoriamente no Serviço Nacional de Saúde em troca da formação que lhes foi ministrada. “É uma ideia errada, do meu ponto de vista”, acentuou o bastonário, uma vez que “os médicos internos prestam um serviço assistencial absolutamente insubstituível”. Para o bastonário é absolutamente imprescindível que se tenha a consciência de que “para ter médicos internos, um serviço tem de obedecer a um conjunto de parâmetros, de regras e de critérios e ” de modo a que esse serviço seja idóneo para a formação médica e isso obrigada a que tenha reuniões científicas, reuniões de serviço, discussão de casos, e ainda um conjunto de capacidade organizativa que, obedecendo às regras dos colégios de especialidade, acabam por melhor a forma como prestam cuidados de saúde”. Noutra vertente, Carlos Cortes sublinha mesmo que o “Internato Médico é, também ele, uma melhoria de atualização dos conhecimentos dos médicos especialistas do serviço”, resultando ainda, entre outras vantagens, “na dinâmica científica que os internos desenvolvem, sendo que os avanços da Ciência são absolutamente fundamentais para o desenvolvimento dos cuidados e dos sistemas de Saúde “. Por outro lado, Carlos Cortes lembrou ainda que os estágios que os internos desenvolvem em centros de referência internacionais redundam, também, em vantagens e mais-valia para os serviços na melhoria da resposta assistencial. “Há aspetos tangíveis e intangíveis na rentabilidade dos internos nos serviços, no enquadramento atual este tema é deveras pertinente dada a falta de recursos humanos”, pelo que, a seu ver, “são necessárias soluções para aumentar a atratividade ao SNS”.
Manuel Teixeira Veríssimo, o anfitrião deste evento, agradecendo a intervenção do bastonário e a amabilidade da presença do Professor Pedro Pita Barros com quem “os jovens internos vão aprender muito”, assumiu de pronto a resposta à pergunta se ‘os internos são rentáveis ou não?’. Sublinhou: “São, efetivamente, rentáveis. Não só porque trabalham mas porque dão ‘sangue novo’ aos serviços, porque inovam, porque questionam, porque vão a estágios ao estrangeiro. São obviamente fundamentais para o sistema e para os serviços”. “Finalmente”, enfatizou, “os internos são o futuro”.
José Rodrigues, médico interno de ortopedia da ULS Coimbra, membro da direção do CNMI, congratulou-se desde logo com a sinergia que resulta na organização deste evento e sumariou, sob a forma de enquadramento para a interveção do professor Pedro Pita Barros, sobre o que é a vida de um médico interno, lembrando um artigo publicado em 2015 no jornal Público que refere que o custo da formação pré-graduada se situa nos 100 mil euros por cada médico, formar um especialista custa ao contribuinte entre 200 a 400 mil euros. Abordando outras ideias que preconizam a fixação obrigatória de um médico ao SNS após a obtenção da especialidade, José Rodrigues aponta, em termos teóricos, para uma difícil equação de como se poderá medir a produção de um médico, sendo muito amplo o leque de funções no exercício de Medicina tutelada: “consulta, serviço de urgência , bloco operatório, internamento, exames diagnósticos e de terapêuticos; apostando ainda na sua formação que, muitas vezes, financiam por si próprios, contribuindo ainda para a inovação e atualização dos serviços”. Ora, a seu ver, “se um terço dos médicos do SNS são médicos internos, como seria se não existissem?”, questiona.
Pedro Pita Barros, figura incontornável da economia da Saúde em Portugal, doutorado em Economia pela Universidade Nova de Lisboa e Professor Catedrático da Nova SBE, explanou a dificuldade de avaliação dos dados sobre a rentabilidade, pelo que reformulou o conteúdo da sua comunicação, optando por “falar dos obstáculos à quantificação do trabalho médico, incluindo a dificuldade de acesso aos dados para conseguir fazer uma caracterização da eficiência do sistema e da produtividade dos médicos”. Realidade bem diferente, recordou, pois há duas décadas conseguiu fazer estas contas. E elencou três abordagens possíveis à pergunta que é formulada agora “Os Internos são rentáveis ao SNS?”: a quantitativa bottom-up (baseada em contabilização direta); a quantitativa top-down (baseada em regularidades estatísticas de valores médios e variação exógena do número de internos) e a qualitativa (baseada na narrativa do trabalho realizado e atribuindo preços e custos às atividades envolvidas).
No segundo dia do evento e antes da sessão de encerramento foram conhecidos e entregues os prémios para os melhores posters.
O evento, em formato híbrido, decorreu na sede da SRCOM com transmissão online através da Plataforma ZOOM. De salientar ainda que toda a oferta formativa foi ministrada em regime presencial, também nas instalações da SRCOM.
Comunicações premiadas (apresentadas sob a forma de poster), a avaliadas pela Comissão Científica presidida por Inês Rosendo, foi composta por Joana Fonseca Ferreira, Paula Neves, Dora Catré, Nuno Rama e Tiago Santos.:
Vencedora do 1o Prémio – Prémio Júri – 2000 euros | Morte em idade pediátrica: Perceção e Experiência dos Profissionais de Saúde. Primeira autora: Inês Silva Costa. Coautoras: Inês Melo, Cláudia Moutinho, Sofia Reis, Lígia M. Ferreira, Cristina Baptista
Vencedora do 2o Prémio – Prémio Júri – 1000 euros | Simulação para treino de colocação de dreno torácico em pediatria – construção de um novo modelo. Primeira autora: Victoria Leones de Matos. Coautoras: Liliana Santos MD, Diana Coimbra MD, Maria Francelina Lopes Ph.D
Vencedora do 3o Prémio – Prémio Júri – 500 euros | Harrison versus PNA: será o novo paradigma de acesso à especialidade um melhor método? | Primeiro autor: Rui Caceiro. Coautores: Mariana Trindade, Pedro Lopes Ferreira
Vencedora do 4o Prémio – Prémio Júri – 500 euros | Desempenho do ChatGPT na Prova Nacional de Acesso | Primeira autora: Mafalda Griné. Coautores: Gonçalo Ferraz-Costa, Manuel Oliveira-Santos, Rogério Teixeira
O presidente da Comissão organizadora, Henrique Cabral, escreveu na sua página de facebook, findo o evento: “Uma honra presidir à organização do VI Encontro do Internato Médico da Zona Centro, numa parceria entre a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos e o Conselho Nacional do Médico Interno – Ordem dos Médicos , nesta que é uma das ferramentas para a sustentabilidade do sistema, a formação.” Na sua última intervenção, Henrique Cabral destacou ainda que o programa foi delineado de modo a abarcar os aspetos nucleares no que à formação médica diz respeito. (…) A formação médica é ferramenta essencial para a sustentabilidade do sistema no que ao número de médicos diz respeito mas também ao facto de prestarem cuidados assistenciais durante o período de formação assegurando 1/3 da força de trabalho médico do Serviço Nacional de Saúde”.
© Texto e Fotos/SRCOM – Paula Carmo