“A saúde em dia está cada vez mais na ordem do dia”

“A saúde em dia está cada vez mais na ordem do dia”

 

O Movimento Saúde em Dia – Não Mascare a Sua Saúde apresentou, a 29 de setembro, pelas 9h30, na Ordem dos Médicos, em Lisboa, os resultados de um inquérito à população portuguesa sobre as perceções em relação ao impacto da pandemia da COVID-19 no acesso a cuidados de saúde. Na abertura, o bastonário da Ordem dos Médicos deixou uma noção basilar: "a Saúde em Dia está cada vez mais na ordem do dia". Para o diretor médico da Roche, Ricardo Encarnação, o caminho do futuro é trilhado com a aposta na investigação e na parceria de todos os intervenientes.

Sobre o futuro e na linha de pensamento e importância da saúde mental, o professor Júlio Machado Vaz, no âmbito da conferência magistral de abertura deste evento que foi transmitido nas plataformas digitais, deixou como nota dominante o alerta para as questões da solidão. "Temos de ter a noção que a solidão é um fator de risco para saúde mental porque acarreta depressão que é, por sua vez, um fator de risco para doenças físicas".
Na sua videoconferência, o psiquiatra foi ainda mais longe no seu alerta. "A solidão é, por si mesma, um fator de risco", sobretudo e de forma marcante e acentuada, "nas populações mais idosas". Em seu entender, neste enquadramento, é também fulcral estar atento aos fatores de risco e ao stress que atinge os profissionais de saúde, para quem sugere, aliás, uma resposta e apoio específico. Com base em números por si recolhidos, a linha SNS 24 (e de o início da pandemia declarada), recebeu 3000 chamadas de profissionais de saúde (até há 10 dias), pelo que urge, a seu ver, combater as queixas de sofrimento psicológico por parte dos profissionais. A terminar a sua intervenção, o professor Júlio Machado Vaz preconiza uma abordagem global do doente, envolvendo o Ministério Saúde, o urbanismo, o Ministério da Educação, entre outros, olhando para a perspetiva global da existência humana e as suas determinantes familiares, laborais e sociais. Em Inglaterra, aludiu Júlio Machado Vaz, em que já se trabalha em prescrição global. "As crises são oportunidades", disse.

Durante a manhã, após a apresentação do estudo à população "Acesso a cuidados de saúde em tempos de pandemia" (da responsabilidade da GFK Metris e promovido pelo Movimento Saúde em Dia – Não Mascare a Sua Saúde, uma iniciativa da Ordem dos Médicos e da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), com o apoio da Roche), realizou-se um debate em torno dos dados apresentados.

Vamos, pois, aos resultados do inquérito elencados na conferência pelo diretor da GFK Metris, António Gomes:
Mais de metade dos portugueses (57%) diz que a pandemia dificultou o acesso aos cuidados de saúde, sendo a população mais idosa e os doentes crónicos quem mais expressa este problema. O estudo quantitativo foi realizado, com base em questionários presenciais, entre 28 de agosto e 7 de setembro. A amostra foi constituída por mais de mil pessoas a partir dos 18 anos e residentes em Portugal Continental, sendo a amostra proporcional representativa da população residente. Há um dado que ressalta: 692 mil portugueses não realizaram as consultas médicas que estavam marcadas.
Quanto à perceção de segurança, perto de 40% dos inquiridos diz que recorreria de certeza a cuidados de saúde durante a pandemia em caso de necessidade, 35% apenas recorria se a situação fosse grave e mais de 22% refere que "provavelmente recorreria".
Metade dos participantes refere que se sente seguro e confortável no acesso a cuidados de saúde. Quem sente insegurança, aponta o receio de contágio como principal motivo para evitar uma ida ao médico.
O estudo também quis perceber de que forma os portugueses aceitaram a telemedicina, tendo concluído que 775 mil tiveram uma consulta médica por este meio, com 90% a realizá-la. Porém, "em 95% destes casos as consultas foram feitas por telefone, não configurando uma efetiva consulta de telemedicina – menos de 5% dessas teleconsultas envolveram transmissão de imagem", salienta o estudo, mostrando também que, "apesar de a experiência ter sido considerada muito satisfatória, a verdade é que dois terços não gostariam de voltar a ter esta solução em nenhuma situação ou só em casos muitos excecionais". Para outro terço, a teleconsulta só poderia ser uma opção em algumas consultas. Só 2% das pessoas gostariam de manter a teleconsulta em todas ou quase todos os momentos.

 

Na primeira ronda de discussão do segundo painel, após se elencar as conclusões e propostas do Think Tank, por Francisca Azevedo, Diretora Executiva da GFK/Metris, o professor da Escola Nacional de saúde Pública, Francisco Ramos – Reorganização rede de saúde pública; identificar o que é fútil no conjunto de cuidados que fazemos hoje;
Para a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins, em Portugal existe "capacidade de pensar e de executar mesmo com dificuldades (clínicos a resolver problemas)" e deu como nota a sua crença "numa sociedade mais forte". Por seu turno, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, considerou premente a necessidade de planeamento, reportando falhas de antecipação dos problemas e dificuldades. "É importante termos uma visão global do sistema. Há que capacitar e potenciar os serviços para as respostas do futuro. As infeções são cíclicas…". A seu ver, e reportando à sua experiência enquanto diretor de serviço de Patologia Clínica, verifica-se uma "falta gritante de formação dos funcionários nos lares. Os profissionais dos lares não têm formação para lidar com a Covid-19". Deixa, pois, a sugestão à tutela para que esta possa enviar equipas de formação aos lares.
Na sessão de encerramento, Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, defendeu: "É necessária uma rede de cuidados, através de multiprestadores, e não apenas uma resposta individual. A nossa obrigação é não deixar ninguém para trás", assumiu.

No final desta conferência, que decorreu com restrições e condicionalismos de acesso a todos os interessados face à necessidade de implementar medidas preventivas à COVID-19, Miguel Guimarães, afirmou: "É preciso libertar as pessoas do medo; por que uma grande parte das doenças (cardíacas, diabetes, avc) são muito mais graves do que doença covid)". Daí que, neste contexto e na sua opinião, é necessário convocar toda a sociedade civil de modo a não deixar quem mais precisa para trás. E citou o exemplo dado pelos farmacêuticos: "Olhando para este estudo, 99 por cento dos doentes não deixou de ter medicamentos. Isto foi graças ao envolvimento da Ordem dos Farmacêuticos e das associações de doentes". Aventando que "a recuperação económica começa pela saúde", Miguel Guimarães alertou: "Vamos entrar numa fase difícil, com três tempestades: a resposta aos doentes não covid; a resposta aos doentes covid; a resposta à gripe sazonal". É, por isso, necessário "esforço nacional" para ultrapassar todos os desafios desta fase.
O Movimento Saúde em Dia foi lançado no início de setembro pela OM e pela APAH, em parceria com a Roche, com o objetivo de alertar a população para "a importância de estar atenta a sintomas e sinais que precisem de observação médica, mas sem esquecer também as regras já conhecidas para combater a pandemia".

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