“USF e UCSP – que modelos e que desafios?”

“USF e UCSP – que modelos e que desafios?”

A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) promoveu, no dia 25 de maio, o debate "USF e UCSP: que modelos e que desafios?". Muitas foram as questões abordadas por um painel que contou com a intervenção do Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes; Coordenador Nacional para a Reforma do SNS na área dos Cuidados de Saúde Primários, Henrique Botelho; do Presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira; do Presidente da (Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar | USF – AN), João Rodrigues; da Médica da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados S. Tiago (Unidade Local de Saúde de Castelo Branco), Susete Simões;
da Médica da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Tábua, Carla Correia;
da Coordenadora da Unidade de Saúde Familiar Fernando Namora, Ana Paula Cordeiro (que começou há 25 anos a trabalhar num centro de saúde em Tábua e já trabalhou na UCSP em Soure); e da Médica Interna do 4º ano Medicina Geral e Familiar USF Fernando Namora, Ana Peixoto.
"Faz sentido existirem apenas Unidades de Saúde Familiar? Qual a ligação entre Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados e as Unidades de Saúde Familiar? Como trabalhar em conjunto? Qual o futuro dos Cuidados de Saúde Primários?" foram algumas das questões levantadas.
Na Sala Miguel Torga da SRCOM, Carlos Cortes, ao dar início à moderação do debate, reportou que nas visitas que efetua "os colegas reportam-me diferenças". No entanto, aludiu, "no trabalho que desenvolvem são iguais". Estava dado o mote para a intensa e profícua reflexão que cativou os participantes do primeiro ao último minuto desta sessão.
"Gostaria de terminar, daqui a um ano e meio, o mandato com as Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados extintas", declarou o coordenador nacional para a reforma do Serviço Nacional de Saúde na área dos cuidados de saúde primários, Henrique Botelho, que admitiu ser "muito difícil" cumprir com esse desejo. Na Sala Miguel Torga, logo na primeira ronda de intervenções, o presidente das Unidades de Saúde Familiar – Associação Nacional (USF-AN), João Rodrigues, sublinhou que as UCSP seguem um modelo hierárquico, mas que USF e UCSP "têm a mesma carteira de serviços" e o "mesmo processo de avaliação". Sublinhou o médico de família que trabalha na vila da Lousã: "eu não quero USF de tabuleta. Quero USF que tenham a marca e para isso são necessários requisitos mínimos", frisando, aliás, alguns problemas na região centro devido "à ausência de investimento", "falta de supervisão" e "falta de liderança", apontando as críticas para a administração regional de saúde.
Ora Rui Nogueira considerou de antemão que a discussão "não se pode transformar num campeonato". "Estamos na era infantil da governação clínica das nossas unidades de saúde e ACES [Agrupamentos de Centros de Saúde]", alertou o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, sublinhando que também tem de ser aproveitada uma "oportunidade única nos próximos anos", em que o país vai formar "dois mil médicos de família" em três anos.
Carla Correia, da UCSP de Tábua frisou que "é tempo de ultrapassarmos a ideia de a UCSP é o parente pobre da reforma", uma vez que também trabalha por objetivos, consegue ter autonomia técnica, tendo sido um processo natural a reorganização que transformou o centro de saúde em UCSP. "As coisas foram muito naturais, sem imposição", confessou.
". E Ana Peixoto, interna do 4º ano de Medicina Geral e Familiar e atualmente na USF Fernando Namora (Condeixa-a-Nova), partilhou a sua visão dos vários modelos, uma vez que também já trabalhou numa UCSP. Falou dos níveis de exigência, da preocupação com os indicadores, mas reportou como fundamental o facto do médico de família ter a possibilidade de trabalhar com um ficheiro com menos de 1900 utentes. "Com um país tão pequeno com tantas diferenças ao nível das unidades de cuidados de saúde primários? Isto faz algum sentido? Se eu fizesse a pergunta a mim própria onde gostaria de trabalhar, numa UCSP ou numa ?", questionou a jovem médica, na sua intervenção. De pronto, respondeu: "Em nenhuma das duas tendo em conta os moldes atuais". Para além de poder ter um ficheiro com menos 1900 utentes, Ana Peixoto elencou alguns items que poderiam contribuir para o modelo ideal: ter autonomia para gerir o horário de prestação de serviços, ter a ajuda de outras especialidades (psiquiatria, dermatologia, etc). E, sobretudo, trabalhar num local onde a preocupação com a saúde dos profissionais fosse como a preocupação com a saúde dos utentes.
A participação dos colegas neste debate foi de tal forma revelador do interesse neste tema que o mesmo voltará à agenda das sessões da Secção Regional do Centro.

 

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