Coimbra: Presidente da República Portuguesa apoia a Declaração Universal da Igualdade de Género

Coimbra: Presidente da República Portuguesa apoia a Declaração Universal da Igualdade de Género

O Presidente da República presidiu, na Ordem dos Médicos, em Coimbra, à sessão de abertura da terceira conferência do ciclo "Igualdade de Género – Um Desafio para a Década", considerando que esta questão está relacionada com "um problema de cultura cívica, de mentalidade". O Professor Marcelo de Rebelo de Sousa aludiu, neste âmbito, que "é mais fácil elaborar leis do que aplicá-las, do que mudar mentalidades". Disse o Chefe de Estado na sua intervenção: "As mulheres são, em muitos cursos, uma maioria clara, ou em algumas atividades profissionais e até na Administração Pública ou nas empresas, embora não nas chefias, e na política verificamos uma desigualdade manifesta entre homens e mulheres". Aliás, tanto o Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, como o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, se referiram à feminização da profissão médica. 

Recuemos, porém, alguns minutos antes da intervenção do Presidente da República Portuguesa. Para esta sessão, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos levou a cabo a reposição da exposição evocativa da primeira cirurgiã portuguesa, Carolina Beatriz Ângelo (1878 – 1911). Dando voz ao percurso inovador e marcante desta médica, a cirurgiã Dulce Diogo (atualmente da Unidade de Transplantação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra) recordou o ativismo desta republicana, sufragista: "Uma Mulher na Medicina dos Homens", assim se intitula a mostra patente na Sala Miguel Torga, precisamente, onde decorreu esta sessão.
O Bastonário da Ordem dos Médicos, ao intervir na abertura formal desta conferência, começou por destacar o "motor" desta iniciativa: o Professor Rui Nunes, presidente e fundador da Associação Portuguesa de Bioética. E o exemplo da médica cirurgiã Carolina Beatriz Ângelo também mereceu amplo e sentido destaque na intervenção do atual Bastonário como "exemplo para todos nós". Da memória para a atualidade, assumiu Miguel Guimarães: "As mulheres são cerca de 70 por cento dos médicos em Portugal", assinalou, "mas não posso deixar de realçar que quando estamos a falar em igualdade de género estamos a falar de igualdade de oportunidades".
Entretanto, o Professor Rui Nunes, professor Catedrático de Medicina da Universidade do Porto, agradeceu o facto de "A Ordem dos Médicos tem sido um parceiro instrumental para conseguirmos levar a cabo este projeto que começou há meio ano. A Ordem dos Médicos tem uma visão de sociedade e esta sala mostra isto mesmo", disse Rui Nunes, coordenador deste ciclo de conferências, agradecendo também à UGT que "em bom tempo entendeu ajudar a organizar estas conferências em todo o país. Começou por ser uma simples conferência no Porto e já temos um amplo programa em todo o País". Para o impulsionador da proposta da Declaração Universal da Igualdade de Género que em breve a UNESCO analisará, e cuja notoriedade e impulso o Presidente da República contribuiu com a sua participação nesta conferência em Coimbra, o papel da UGT merece destaque ao protagonizar "o sindicalismo com uma visão progressista e com enorme responsabilidade social". Carlos Silva (secretário-geral da UGT) e Lucinda Dâmaso (presidente da UGT) mereceram, pois, encómios de todos os participantes.
Para o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, anfitrião desta conferência, disse: "Estamos aqui numa sala, a respirar Carolina Beatriz Ângelo. Reeditamos a exposição, de há dois anos, sobre a primeira mulher cirurgiã portuguesa num mundo de homens. Muito do que aqui será discutido, pensado e dito terá a inspiração desta mulher que evocamos como um símbolo de luta por direitos cívicos, sociais, políticos e humanos".
Destacou Carlos Cortes: "Foi a primeira mulher a votar em Portugal, para a Assembleia Nacional Constituinte da I República. A 28 de maio de 1911, esta sufragista, natural da Guarda, exerceu o seu direito de voto na freguesia de S. Jorge de Arroios, em Lisboa, contra a vontade do Poder Republicano. Foi a primeira mulher a ousar, pensar e defender que os princípios milenares da Medicina hipocrática ultrapassavam as barreiras artificiais que separavam os homens das mulheres. Hoje, passados 105 anos, a Medicina vive um tempo muito diferente mas este reecontro com a História continua a ser intemporal e ter atualidade. Volvidos mais de cem anos, na classe médica, e de acordo com os mais recentes dados estatísticos, há mais mulheres a exercer esta profissão. Ainda há poucos anos, a Medicina era uma profissão viril e passou a ser mais feminina.". O presidente da SRCOM citou números: "Em 1991, as mulheres representavam 40,2 % de todos os médicos em atividade. Em 2015, 53,6% são mulheres. Se olharmos, por exemplo, para os números de médicos até aos 35 anos, dois terços são mulheres. A mesma tendência nas faculdades de Medicina". Acrescentou Carlos Cortes: "O desafio é valorizar as diferenças nas equipas médicas, destacar as diferenças nas formas de pensar, unir as complementaridades de saberes e sensibilidades. Infelizmente, as lideranças na Saúde não traduzem estes números. Estou confiante que a qualidade técnica e a qualidade de liderança sejam reconhecidas, independentemente do género. Estou esperançoso que esta tendência irá aumentar nos próximos anos porque independentemente do médico ser homem ou mulher, terá de ser o mérito de cada um a ter reconhecimento.
Provavelmente, daqui a alguns anos, Carolina Beatriz Ângelo não será símbolo de luta e afirmação só das mulheres na Medicina e na Sociedade mas será o símbolo para todos os que lutam pelos ideais da Igualdade, contra os sinais de discriminação". Lucinda Dâmaso assumiu, aliás, que a igualdade de género é desafio para muitas décadas.
Po seu turno, Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, ao abordar as questões de igualdade de género, destacou Carolina Beatriz Ângelo e exortou que é preciso continuar a defender exemplos como o dela e citou Nelson Mandela "A Igualdade social é a única base da felicidade humana".
Coube ao Presidente da República agradecer aos duplos anfitriões, e assinalou, na pessoa do presidente da SRCOM, Carlos Cortes, o facto de a Ordem dos Médicos, instituição antiga, estar cada vez mais jovem na "pessoa do presidente do Conselho Regional". Aludindo ao facto de estar em Coimbra, destacou: "Coimbra alia – e sabe a Ordem dos Médicos isso muito bem – alia de uma forma singular o ser capital da Saúde, o ser alma mater da Universidade, o ser expoente cultural, o ter uma posição privilegiada até no lidar com a Língua Portuguesa e no falar a Língua Portuguesa e no viver a Língua Portuguesa".
Na tarde do dia 18, a presença do Presidente da República Portuguesa nesta terceira conferência no âmbito do ciclo "Igualdade de Género – Um Desafio para a Década", é justificada pelo próprio Professor Marcelo Rebelo de Sousa: "é o apoio a uma boa causa. Levar até à UNESCO uma Declaração Universal da Igualdade de Género e conta com o apoio do Presidente da República". E foi na pessoa da Professora Graça de Carvalho, ali presente, que quis agradecer dar testemunho encomiástico. "Ela é uma dessas mulheres que marcam cá dentro e lá fora".

"A Igualdade de Género na Política e nos Media" e a "A Igualdade de Género no Direito Português" estiveram em debate nesta conferência e trouxeram à Ordem dos Médicos, em Coimbra, especialistas da área da Comunicação, do Direito, do Ensino, da Psicologia e da Medicina. Recorde-se que este ciclo de conferências teve início em novembro, no Porto, e terminará no mês de outubro em Lisboa.

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