Os rostos do combate à pandemia facilitaram a vitória do PS

Os rostos do combate à pandemia facilitaram a vitória do PS

Os rostos do combate à pandemia facilitaram a vitória do PS

A ministra da Saúde e candidata do PS por Coimbra, Marta Temido, mostrou que o que aconteceu em Outubro, nas eleições autárquicas, quando o PS perdeu a Câmara de Coimbra para um candidato apoiado pelo PSD, foi devido a uma circunstância local e não a uma verdadeira fuga do eleitorado socialista. O PS já tinha eleito mais deputados que o PSD em 2019 (cinco contra três), mas este ano verificou-se um aumento expressivo de votos no PS. No distrito de Coimbra, há dois anos, votaram 79.590 eleitores na lista do PS. No passado domingo, foram mais 17.720 a fazê-lo.
Também o PSD viu subir o número de votantes, mas em muito menor expressão: cresceu pouco mais de 8 mil votos. Resultado? O PS passou de cinco para seis deputados, o PSD manteve os três e o Bloco de Esquerda perdeu um, José Manuel Pureza. O Bloco perdeu mais de metade dos eleitores: passou de 22.808 para 10.950.


Em Leiria, o PSD nunca tinha experimentado o segundo lugar em eleições legislativas. Fossem sozinhos, coligados com o CDS ou nos tempos da Aliança Democrática, os sociais-democratas sempre tiveram mais votos e mais deputados que os socialistas naquele distrito do Centro do país. Em 2019, ficou 5-4 para o PSD, agora, com o secretário de Estado adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, como cabeça de lista, ficou 5-4 para o PS. Aconteceu praticamente o mesmo que em Coimbra: os dois Correia de Matos. O responsável lembra que Marta Temido tem sido criticada no seu próprio distrito por causa de vários problemas no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), da indefinição sobre o hospital dos Covões, ao atraso na construção de uma nova maternidade, passando pelos “péssimos” acessos ao próprio Hospital Universitário de Coimbra.
Embora diga que “quando o cidadão passa pelos cuidados de saúde apercebe-se do estado deficitário de vários serviços”, acrescenta que “há sempre uma distância grande entre uma visão do profissional e o resto da população” em relação aos responsáveis da tutela.


O resultado de Leiria é mais inesperado que o de Coimbra. A notoriedade televisiva ajuda, claro, mas quem andou com o candidato na estrada diz que não é tudo. Lacerda Sales é uma pessoa conhecida no meio: é médico ortopedista e trabalhava no hospital de Leiria antes de chegar à política.
Daí que, em acções de Reportagem Camilo Soldado Coimbra e Leiria Os rostos do combate à pandemia facilitaram a vitória do PS Aposta em Marta Temido e Lacerda Sales não foi, afinal, arriscada. Sales, que foi médico em Leiria, ainda encontrou vários pacientes partidos crescem, mas o PS cresce bem mais que o PSD. Os sociais-democratas tiveram mais 7 mil votos, mas os socialistas tiveram mais 15 mil votos que há dois anos, ritmos diferentes que permitiram a ultrapassagem inédita do PS. Nota também para o Bloco de Esquerda, que cai de 20.925 votos para 10.711, e para o Chega, que ao atingir 18.918 votos consegue eleger um deputado por Leiria.


Foi a constante presença de Temido e Sales nos ecrãs dos portugueses que motivaram tal subida? O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, tem dificuldade em fazer uma leitura exclusivamente local. Acredita que contou mais o peso na figura de proa de cada partido (Costa e Rio) do que propriamente nos nomes do seu círculo eleitoral.
“Mas não quero desvalorizar os candidatos a deputados, que tiveram uma projecção mediática muito importante, principalmente nestes últimos dois anos”, considera. Até porque os dois governantes são “personalidades muito conhecidas dos portugueses. Provavelmente até são mais conhecidas que todos os outros candidatos naqueles círculos eleitorais”, aponta Cortes. Essa presença de figuras como Marta Temido e António Lacerda Sales no dia-a-dia das pessoas teve o seu peso, admite, até porque, em Portugal, “o combate à pandemia tem sido visto como positivo por vários aspectos, nomeadamente no processo de vacinação”. Houve também uma “hiperfocalização” na pandemia, o que “apagou as dificuldades do SNS”, lamenta.
Estes factores ajudam a explicar que Coimbra, um distrito que tem cerca de 5 mil médicos, estima, sendo que “alguns não têm achado grande piada a declarações da ministra da Saúde”, tenha votado em peso no PS.


O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros também olha para o papel na gestão da pandemia e O desempenho da equipa da Saúde Fonte: MAI PÚBLICO IL Bloco Chega PSD PS 6 3 COIMBRA LEIRIA 45,2% 29,1% 6,1% 5% 3,6% BE IL Chega PSD PS 5 4 1 35,7% 34,7% 8% 5,3% 4,5% presença mediática como um factor importante para o resultado eleitoral. O combate à pandemia acabou por ser capitalizado, até porque, “em campanha eleitoral, é sempre expectável que os candidatos tentem puxar mais pelo que de positivo o sector tem” e pelo trabalho desenvolvido.
Mas nem por isso o sector deixa de ter problemas. “Todos concordamos que o sector atravessa um momento muito difícil, tem um SNS bastante carenciado, bastante deÆcitário e com um problema de governance que urge resolver”, diz Ricardo.

Ele não pode ganhar porque ele era o meu médico e eu quero que ele volte Apoiante do PS durante a campanha eleitoral, referindo-se ao facto de Lacerda Sales ter sido médico em Leiria antes de entrar na política e na campanha, facilmente fosse reconhecido por antigos pacientes. “Ele foi médico de uma data de gente. Até para nós foi surpreendente”, conta o membro da caravana socialista, comentando a popularidade do secretário de Estado nas ruas e descrevendo-o como uma pessoa calma e afável. “Houve até uma senhora que chegou ao pé de mim e disse: ‘Ele não pode ganhar porque ele era o meu médico e eu quero que ele volte’.” Daqui para a frente, aponta Ricardo Correia de Matos, as conversas com a tutela não necessitarão de grandes introduções. É que se os enfermeiros conhecem “tanto as causas como os problemas do SNS”, apontam, também o governo que entrará em funções, presumivelmente com rostos familiares na pasta da saúde. “O governo deixa de estar prisioneiro de outras agendas que não a sua.
Terá financiamento [os milhões do PRR] e temos de perceber que temos uma oportunidade única para reformar o sector da saúde em Portugal”, avisa.
Foto: MIGUEL A. LOPES/LUSA Autor: Camilo Soldado

Ordem dos Médicos