No âmbito das celebrações do 46º aniversário do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) proferiu um discurso marcante, enaltecendo o legado histórico do sistema público e alertando para os desafios que ameaçam a sua sustentabilidade.
Um tributo à Revolução de Abril e aos fundadores do SNS: O presidente da SRCOM iniciou a sua intervenção sublinhando que o SNS é “a maior e melhor construção da Revolução de Abril”, recordando o papel determinante de dois conimbricenses na sua fundação: o Dr. António Arnaut, considerado o “pai do SNS”, e o Professor Mário Mendes, responsável pela sua operacionalização. Ambos foram homenageados como figuras centrais na criação de um sistema que viria a transformar o acesso à saúde em Portugal.
Reconhecimento aos profissionais de saúde: O discurso também prestou homenagem aos milhares de médicos e profissionais de saúde que, com “dedicação e competência”, contribuíram para que o SNS fosse reconhecido como um dos melhores sistemas de saúde do mundo. Apesar das limitações, o presidente destacou que o SNS continua a figurar entre os 12 a 20 melhores sistemas globais, dependendo do método de avaliação.
Instabilidade e reformas por concretizar: O tom da celebração foi marcado por uma reflexão crítica sobre o atual estado do SNS, que enfrenta “instabilidade”, visível no encerramento de urgências em especialidades como obstetrícia e na escassez de médicos de família em várias regiões. O presidente atribuiu parte destas dificuldades à falta de adaptação do SNS às mudanças demográficas e sociais, que tornaram a população “mais exigente, mais envelhecida e mais doente”.
A reforma iniciada em 2024, com a criação das Unidades Locais de Saúde (ULS), foi inicialmente vista como promissora, mas, segundo o presidente, não trouxe os benefícios esperados, contribuindo para o “desgaste contínuo” do sistema.
Apelo a uma reforma profunda e colaborativa: Apesar do cenário desafiante, o presidente da SRCOM acredita que ainda é possível “inverter a espiral negativa” que tem afetado o SNS nas últimas duas décadas. Para tal, defende uma reforma estrutural, com visão de médio e longo prazo, conduzida por profissionais com conhecimento do terreno e com a colaboração ativa de todos os intervenientes do setor.
Debate com candidatos autárquicos: Este ano, a SRCOM convidou os candidatos à presidência da Câmara Municipal de Coimbra para um debate sobre saúde, reconhecendo o papel crescente das autarquias na gestão dos cuidados de saúde primários e na prevenção, especialmente num contexto de descentralização.
À guisa de conclusão, o discurso de Manuel Teixeira Veríssimo reforça a importância de preservar e renovar o SNS, não apenas como um legado histórico, mas como um pilar essencial da saúde pública em Portugal. Foram também intervenientes nesta sessão, após a simbólica rega da Oliveira SNS que está plantada no Parque Verde do Mondego, em Coimbra, desde 2009, a presidente da Liga dos Amigos dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Isabel de Carvalho Garcia, e o advogado António Miguel Arnaut em nome do avô, advogado e político, António Arnaut. O evento contou com a apresentação da médica de família Liliana Constantino, membro do gabinete consultivo de organização e promoção de atividades da SRCOM.
















