Na cerimónia de compromisso hipocrático dos novos médicos, Manuel Teixeira Veríssimo deixou uma mensagem clara: o juramento que os recém-licenciados assumem “não é um fim, mas o começo de uma vida desafiante”, construída na busca pela excelência, mas sempre guiada pela empatia e pelo respeito pela vida humana.
no que toca ao momento especial e irrepetível para cada jovem, o presidente da SRCOM afirmou: “A Medicina é uma ciência, mas também é uma arte, a qual está profundamente enraizada na ética, na compaixão e no compromisso com a melhoria da qualidade de vida do nosso semelhante. Por isso, mais do que palavras, este juramento é um contrato moral com a promessa inabalável de dedicação aos doentes, independentemente da sua condição física, psíquica ou social.”
No seu discurso proferido na Covilhã e em Coimbra, o responsável destacou que a qualidade do ato médico não se mede apenas pelos resultados clínicos, mas também pela capacidade de ouvir, compreender e valorizar cada doente. “Procurem o melhor conhecimento, as melhores práticas, mas nunca se esqueçam de perguntar ao doente o que ele sente, o que ele quer, o que ele teme”, apelou.
Dirigindo-se aos novos profissionais, Manuel Teixeira Veríssimo reforçou ainda a importância da autonomia responsável na prática clínica, alertando para os riscos da pressa ou de pressões externas: “Sejam livres e responsáveis. Não deixem que o vosso juízo clínico seja capturado pela pressa, pela pressão ou por interesses alheios ao doente.” A solidariedade entre profissionais e a dimensão coletiva da Medicina foram igualmente sublinhadas. Embora o contacto com cada doente seja individual, afirmou, as respostas de saúde exigem colaboração e partilha: “Juntos, somos sempre mais fortes.”
Em nome da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), Manuel Teixeira Veríssimo felicitou os novos médicos pela escolha de uma “nobre profissão” e desejou que o seu percurso seja guiado pela sabedoria, pela compaixão e pela missão de aliviar o sofrimento humano. “Parabéns e bem-vindos à nossa comunidade médica”, concluiu.
Por seu turno, o Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, falou também da importância deste compromisso: “Nunca percam de vista esta verdade: a partir de hoje, cada palavra, cada gesto, cada olhar e cada decisão vossa tem o poder de orientar o destino de uma vida e, inevitavelmente, o de milhares que se cruzarão convosco”, recordando que não há outro texto “que una de forma tão profunda e tão universal toda uma profissão em todos os 5 continentes. Ele é irrevogável, serão médicos para toda a vida”.
Sem esquecer a atualidade, Carlos Cortes voltou, pois, a apontar o dedo à tutela e alertou para fragilidades estruturais do SNS, pedindo “decisões corajosas” ao Ministério da Saúde.
Ao alertar para as “fragilidades graves” que continuam a marcar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), responsabilizou direta e concretamente o Ministério da Saúde pela falta de organização, planeamento e defesa do sistema. Segundo o bastonário, estas fragilidades atingem diretamente os profissionais e comprometem a qualidade dos cuidados prestados aos utentes. Entre os problemas identificados, Carlos Cortes destacou as dificuldades persistentes em atrair e fixar médicos, apesar dos sucessivos alertas e contributos da Ordem. “Os concursos tardios, as carreiras desajustadas, a burocracia excessiva e as cargas horárias incomportáveis geram exaustão e alimentam episódios de violência inaceitáveis contra profissionais”, afirmou.
O bastonário sublinhou ainda que a formação médica tem sido prejudicada, com médicos internos frequentemente utilizados para colmatar falhas nas escalas, “em funções para as quais não estão capacitados”. Para Carlos Cortes, esta prática compromete simultaneamente a segurança dos doentes e a aprendizagem dos futuros especialistas.
As listas de espera prolongadas, as urgências sobrelotadas e sistemas informáticos que não libertam tempo para o ato médico foram apresentados como evidências de um SNS que “se apoia no sacrifício dos médicos para suprir o que a organização não garante”. E deixou um aviso: “Nenhum SNS pode viver eternamente de heroísmos.”
Carlos Cortes criticou ainda a falta de escuta do Ministério da Saúde aos profissionais no terreno, bem como a persistência em “narrativas que desmentem a realidade das enfermarias, urgências e consultas”. Recordou, a propósito, o relatório divulgado ontem pela Entidade Reguladora da Saúde que “arrasou” o programa «Ligue antes, Salve vidas», por considerar que coloca em causa o direito constitucional à saúde. Apesar do cenário descrito, o bastonário rejeitou qualquer mensagem de desânimo. “Parece mesmo desanimador, mas não é para vos desanimar, é sobretudo para vos convocar”, afirmou, sublinhando que os médicos “foram sempre motor de desenvolvimento e esperança”.
Coube a Miguel Castelo-Branco fazer a Oração de Sapiência com o título “O Juramento de Hipócrates á luz da Medicina Contemporânea”. Para o Diretor do CIBIT (Coimbra Institute for Biomedical Imaging and Translational Research) e responsável dos Laboratórios de Neurociências da Visão, e Bioestatística e Informática da Faculdade de Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, é importante “melhorar o cérebro empático e o cérebro social”, deixando vários desafios aos jovens médicos: “Temos de ter uma Medicina holística, precisamos de ter uma abordagem biopsicossocial”.
Esta sessão solene teve início com a interpretação do coro da SRCOM e culminou com um momento musical protagonizado pelo o grupo Art´Ventus Quintet que, neste dia, se apresentou numa formação de três intérpretes. Este grupo tem desenvolvido diversos projetos de formação de públicos, bem como de integração social com o foco na população mais vulnerável – idosos e portadores de doenças mentais. Interpretaram Mozart e Beethoven para gáudio da vasta plateia no auditório principal dos HUC.
Por fim, a foto de grupo rematou toda a sessão solene. Estiveram presentes a vice-Presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos
Médicos, Filipa Lança, e a vice-presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, Fernanda Estevinho que também foram protagonistas no momento de entrega da cédula profissional. Inúmeros convidados de entidades protocolares neste evento solene que honraram a Ordem dos Médicos com a sua presença.
Parabéns a todos os novos médicos!













