Na porta número 36 da Rua Oliveira Matos, em Arganil, vivem memórias que ontem ganharam eternidade. Numa cerimónia comovente e amplamente participada, foi prestada homenagem póstuma ao Dr. Manuel Barreto de Almeida Leite — um médico cuja dedicação e humanidade deixaram uma marca profunda em gerações de arganilenses bem como de muitos outros habitantes de Góis, Pampilhosa da Serra, Fundão, Seia, Gouveia, Oliveira do Hospital.
Numa cerimónia que teve lugar na Santa Casa da Misericórdia de Arganil (SCMA), precisamente no dia maior da Feira do Mont´Alto (7 de setembro), foi prestado tributo ao prestigiado clínico e inaugurada no Hospital de Beneficência Condessa das Canas, unidade pertença da SCMA, a ala com o seu nome bem como o descerramento de placa evocativa neste futuro Hospital de Cuidados Paliativos que, estima-se, poderá abrir no próximo ano.
Recorde-se que SCMA implementou a requalificação no valor de três milhões de euros este hospital para ali implementar os cuidados paliativos (de média e longa duração).
Lembrar o médico, o autarca, o cidadão comprometido com os seus semelhantes, nele sobressaindo a tolerância, o sentido de humor, o humanismo, a sabedoria e a humildade, juntou centenas de pessoas nesta homenagem.
A dedicação à SCMA estendeu-se não apenas ao exercício de funções diretivas, mas também ao seu trabalho clínico no Hospital de Beneficência Condessa das Canas e, mais tarde, no Centro de Saúde de Arganil, onde encerrou a sua carreira no Serviço Público. Recorde-se que antes de se fixar em Arganil, o ilustre médico exerceu em Góis, no então Hospital Monteiro Bastos, tendo também desempenhado o cargo de Presidente da Câmara Municipal. Casou-se com a arganilense Maria Rita Almeida Barreto Leite, fortalecendo ainda mais os seus laços com esta região da Beira Serra.
A sua presença constante no coração da vila de Arganil e a entrega à medicina ao longo de várias décadas marcaram profundamente a comunidade, tal como ficou patente nos diversos discursos proferidos, lembrando todos que, no seu consultório, Manuel Barreto de Almeida Leite acolheu e tratou gerações de pacientes vindos de toda a região, sempre com empatia, carinho e especial atenção às crianças. Essa postura humanista granjeou-lhe o respeito, a admiração e o afeto de todos.
Razão pela qual a Santa Casa da Misericórdia de Arganil, em colaboração com a Associação Filarmónica de Arganil e com o apoio de diversas personalidades e entidades locais, decidiu eternizar o seu nome na memória coletiva da instituição. Embora natural do lugar de Ouca (4 de janeiro de 1937), no concelho de Vagos, Manuel Barreto de Almeida Leite foi, em espírito e em ação, um verdadeiro apaixonado por esta região e por suas gentes. Terminou a sua carreira no setor público em janeiro de 2005. Porém, manteve-se como médico no seu consultório privado até ao fim da sua vida (faleceu a 10 de março de 2025), no número 36 da Rua Oliveira Matos.
Durante a cerimónia, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Professor Manuel Teixeira Veríssimo, enalteceu a iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Arganil, felicitando-a pela justa homenagem prestada ao Dr. Manuel Barreto de Almeida Leite. Sublinhou a importância de reconhecer “algo que, infelizmente, tende a desvanecer-se com o tempo e com o avanço da sociedade e da ciência — e que é essencial — a entrega dos médicos às pessoas”.
O presidente destacou ainda que o homenageado “foi um médico que assumiu um compromisso científico com os seus pacientes, como todos os médicos devem fazer, mas também um compromisso humanista, que representa a outra dimensão fundamental da medicina”. Palavras que espelham a profunda admiração e respeito pelo legado de um médico que soube unir conhecimento e humanidade ao serviço da comunidade. Para Manuel Teixeira Veríssimo, a Medicina divide-se em duas partes: a da Arte e a parte da Ciência. A primeira, dizendo respeito à relação médico-doente e, a segunda, no que concerne ao tratamento das doenças, cada vez mais difíceis, mas que, graças ao progresso científico, nos trazem maior longevidade. “Ao longo dos últimos anos tem-se valorizado mais a parte da ciência, mas não nos devemos esquecer da parte da arte. Por isso, o Dr. Manuel Barreto de Almeida Leite foi um, de entre muitos, que cultivou essa parte da Arte na medicina.” Algo a que, a seu ver, se deve estar em destaque, especialmente, numa época em que a Inteligência Artificial ganha cada vez mais importância e que nos poderá afastar da relação pessoal. “É fundamental esse contributo humanista, a par do conhecimento científico”, sublinhou.
Sobre esta personalidade de exceção – que, recorde-se recebeu a medalha de ouro da Ordem dos Médicos em junho de 2014 – proferiram-se sentidos discursos: António Sérgio Martins (Presidente do Secretariado Regional de Coimbra da União das Misericórdias Portuguesas; Provedor da Misericórdia de Góis), António Carvalhais da Costa (Provedor Da Misericórdia de Arganil), Nuno Gomes (vice-Provedor da Misericórdia de Arganil e que conduziu toda a cerimónia de homenagem), Alexandra Novais (Presidente da Direção da Associação Filarmónica de Arganil), Rui Silva (empresário e ex-presidente da Câmara Municipal de Arganil), Ricardo Alves (ex-presidente da Câmara Municipal de Arganil).
Enumerando as extraordinárias qualidades do Dr. Manuel Barreto de Almeida Leite, o atual provedor da Misericórdia de Arganil, sublinhou: Era um homem dedicado ao mundo. Ele cumpriu como cidadão! (…) São estas memórias vivas que vão permanecer para memória futura”.
Em nome da família, o filho do homenageado, Nuno Barreto Leite disse de forma sentida: “A sua vida foi feita de entrega. O vazio que deixou é enorme. (…) Oxalá fosse eterno”.
A intérprete Marta Mendes brindou ainda a plateia com a declamação de um texto de Rita Andrade Correia e cantou uma música de Pedro Abrunhosa, já no encerramento do momento de maior solenidade que decorreu no Sala dos Beneméritos da Misericórdia de Arganil.





























